07/12/2017 GaúchaZH
Ao abortar a operação de venda de parte das ações do Banrisul, o governo de José Ivo Sartori praticamente sepultou qualquer possibilidade de colocar os salários em dia em dezembro. Mais uma vez, o 13º deverá ser pago em parcelas, ao longo de 2018. Desde que anunciou em “fato relevante” a disposição de vender o que chamou de “ações excedentes” do Banrisul, mantendo o controle acionário, o governo vinha acenando com esse dinheiro para quitar salários e dívidas com fornecedores e prefeituras.
Na greve dos professores, o produto das ações do Banrisul foi prometido para colocar o salário em dia. Aos prefeitos, o governo disse que quitaria pendências usando esses recursos. A 25 dias do final do ano, o governo ainda não quitou os salários de novembro e não se avista no horizonte, qualquer sinal de entrada de recursos extraordinários em volume significativo. A antecipação do IPVA e o ICMS das compras de Natal, que já estavam no fluxo financeiro de dezembro e janeiro, são a esperança de um pequeno alívio para os servidores estaduais.
A expectativa inicial de arrecadar R$ 3,5 bilhões, feita nos bastidores, era tratada com desdém por analistas de mercado, que estimavam um valor máximo de R$ 1,8 bilhão. Com a queda no valor das ações nos últimos dias, em parte provocada pela frustração com a confirmação de que Sartori não pretendia privatizar o Banrisul, a operação estava fadada ao fracasso. Para não vender um terço do banco a preço de banana – abaixo do valor patrimonial – o governo teve o bom senso de recuar. Preferiu pagar o preço da continuidade no atraso dos salários a ser acusado de torrar patrimônio público para cobrir uma parcela do rombo que se aprofunda mês a mês.
O Piratini trata a decisão como um adiamento, mas os operadores do mercado tratam o recuo como suspensão definitiva.
Ex-presidente do Banrisul e pré-candidato a governador, Mateus Bandeira tinha cantado essa pedra quando o governo anunciou a venda de parte das ações. Defensor da privatização do banco, Bandeira alertou que seria “quase um crime vender as ações abaixo do valor patrimonial” e que, se isso ocorresse, deveria ser objeto de ação de improbidade.
Ontem, saudou o recuo:
– Se o Estado levasse adiante a ideia de vender ações com o patamar de preço negociado em bolsa hoje, isso seria altamente lesivo para os verdadeiros acionistas, o povo gaúcho, e não o governo.
A pressão pela privatização segue forte no governo federal, que até agora não aceitou o pedido do Rio Grande do Sul de adesão ao regime de recuperação fiscal. Os técnicos do Ministério da Fazenda consideram uma contradição o Estado pedir socorro federal, sendo acionista majoritário de um banco público. A decisão política do governo Sartori é não vender o Banrisul. Mesmo que quisesse, esbarraria na exigência de um plebiscito, que não conseguiu fazer para estatais menos populares, como a CEEE, a CRM e a Sulgás.