27/07/2009 ZERO HORA
Editorial
Num mundo que tenta sair da crise com embalo suficiente para decolagens mais consistentes e para voos mais amplos, nosso país pode estar carecendo de mais ousadia. A análise, feita pelo economista Marcio Porchmann, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), aponta a virtude da ousadia como diferencial que está caracterizando os países cujas ações estratégicas já começaram a produzir efeitos positivos, como ocorreu especialmente com a Índia e a China. O alerta do especialista, ligado ao Ministério do Futuro, ocorre no momento em que o governo começa a retirar, num processo gradativo, alguns dos principais estímulos adotados contra a recessão. Em fins de junho, o Ministério da Fazenda anunciou o retorno gradual do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para os automóveis e para outros bens cuja venda foi incentivada como alternativa para a queda do consumo e o consequente desemprego. A decisão de adotar essa redução tributária somou-se a outras medidas chamadas de anticíclicas – como a da redução de juros e o aumento do salário mínimo e do Bolsa Família – para enfrentar as sequelas da recessão mundial.
As medidas adotadas foram eficazes, sem dúvida, e é por isso que a recessão brasileira é menos agressiva do que na maioria das economias mundiais. Mesmo assim, o Brasil ainda terá um preço alto a pagar. As políticas de enfrentamento da crise representam um ônus que está sendo pago por alguns milhões de desempregados e pelo endividamento que deverá ser honrado pelas próximas gerações. Neste sentido, não cabe otimismo exagerado quando se fala na queda do desemprego. Os números decrescentes, que o IBGE registrou e divulgou, escondem, segundo especialistas da Universidade de São Paulo, o pior tipo de desemprego: aquele que é “oculto pela desesperança de procurar emprego”. Também não significa um projeto efetivo de longo prazo o inchaço da folha de pagamentos do funcionalismo público, responsável por uma parcela dos empregos.
O Brasil parece satisfeito com sua capacidade de suportar o impacto da crise global e com a amena recessão que ela gerou. Mas não deveria estar. Suas potencialidades lhe permitiriam sonhar com uma ocupação de espaços planetários para os quais a população, o dinamismo da economia e as recursos naturais, humanos e estratégicos apontam como um destino histórico quase inevitável. Os números promissores do aumento do emprego e da ativação da atividade industrial, mesmo que possam ser vistos por um prisma não tão colorido, indicam que o fim da crise já não se esconde num horizonte sem limites. Ao contrário, eles confirmam que o pior está passando e que é hora de construir o futuro.