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02/06/2009 CORREIO DO POVO
Receita de Meirelles inclui muita cautela e pé no chão
O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, revelou preocupação com a euforia atual dos mercados e pregou cautela durante uma reunião-almoço com empresários, realizada ontem em Porto Alegre, na Federasul. 'Vamos ter muita oscilação. Por isso, é preciso manter os pés no chão', disse ele, admitindo que o pior da crise passou e o país está crescendo, mas que somente no segundo semestre será possível ter o quadro mais consolidado e apenas em 2010 haverá solidez. 'Números negativos ainda virão', alertou. Apesar dos sinais de reação da economia, o dirigente lembrou que a variação do PIB (Produto Interno Bruto) do primeiro trimestre só será divulgada este mês.
Meirelles ressaltou que os mercados tendem a antecipar cenários e que, de certa forma, a euforia é boa, pois reflete na entrada de investimentos diretos no país. O presidente do BC também destacou a existência de margens para crescimento, ao contrário do que havia em crises anteriores. A diferença, explicou, se deve ao fato da turbulência ter acontecido em um momento de aquecimento do mercado interno, o que garante capacidade produtiva para atender à retomada. Além disso, o presidente do Banco Central frisou que as empresas já restabeleceram projetos de investimentos previstos ou em andamento no terceiro trimestre de 2008, quando estourou a crise mundial.
Ele argumentou, porém, que o fato de o Brasil se sair melhor da turbulência não significa que esteve imune. 'A crise, a recessão e a queda na produção não são boas para ninguém. Quando falamos do Brasil, é em termos relativos', disse. 'Vamos sair mais fortes porque os fundamentos foram fortalecidos', explicou, referindo-se às reservas cambiais, que em maio já haviam retornado aos níveis pré-crise, de 205,1 bilhão de dólares, à situação do país de credor externo líquido desde junho de 2006, à redução da relação entre dívida pública e PIB – hoje em 38,4%, e previsão de 37,5% para 2010 e à estabilidade da inflação. Meirelles chamou atenção para o fato de que as recessões provocadas por questões creditícias têm maior duração e que o tombo atual da economia internacional foi o maior do pós-guerra (2ª Guerra Mundial).
Houve perdas de 28 trilhões de dólares nas Bolsas desde o estopim da crise, até abril deste ano, previsões de redução de 11% no comércio externo global e de 1,3% no PIB mundial em 2009, conforme o Fundo Monetário Internacional (FMI). No Brasil, a última projeção do Banco Central, em março, indicava crescimento de 1,23% no PIB. Mas, segundo adiantou ontem o presidente do banco, a revisão que será divulgada no final deste mês será 'um pouco conservadora'.