14/12/2016 Exame
Por 53 votos a 16, o Senado aprovou nesta terça-feira (13), em segundo turno e sem mudanças, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que estabelece um teto para os gastos públicos pelos próximos 20 anos.
Como já foi aprovada pela Câmara, a PEC do Teto será promulgada na próxima quinta-feira.
Para a sessão de hoje, a expectativa do governo era de pelo menos 60 votos favoráveis à medida. Mas o resultado foi menos expressivo do que a análise em primeiro turno no Senado, quando o texto foi aprovado com 61 votos a 14.
Uma das razões para isso é que o quórum no plenário do Senado nesta terça foi menor – alguns senadores pensaram que a sessão seria suspensa para almoço. Dessa forma, a diferença entre votos favoráveis e contrários caiu de 47 para 37 entre as duas votações.
Depois da votação do texto principal, o Senado votou dois destaques – um deles pedia que as despesas com as áreas de Saúde e Educação fossem retiradas da PEC do Teto. Ambos foram rejeitados.
Debate
Antes da votação, 13 senadores debateram a PEC na tribuna do plenário, sete a favor do texto e seis contrários. Os parlamentares da base do governo defenderam a necessidade de se realizar um ajuste nas contas públicas e acusaram os governos do PT de realizarem um “aparelhamento do Estado”. Já os senadores da oposição citaram as menções a membros do governo Temer nas delações de executivos da Odebrecht e pediram o adiamento da votação da PEC do Teto.
A oposição entrou com um mandado de segurança ontem (12) à noite pedindo ao Supremo Tribunal Federal (STF) para que a votação da PEC do Teto fosse suspensa, mas o ministro Luís Roberto Barroso negou o pleito.
Um dos argumentos era de que seriam necessárias três sessões deliberativas ordinárias do Senado, mas houve duas sessões extraordinárias e apenas uma ordinária. Esse havia sido o terceiro pedido de mandado de segurança contra a PEC. Todos foram negados pelo Supremo.
ENTENDA O QUE FOI APROVADO
O que a PEC propõe?
Ela define que a partir de 2017, as despesas de Executivo, Legislativo e Judiciário federais não poderiam ter aumento real, estando limitadas à correção pelo índice de inflação (IPCA) do ano anterior.
Qual é o objetivo da medida?
O objetivo da PEC é reverter a tendência inercial de aumento dos gastos federais e com isso o aumento da dívida pública. De 1997 a 2015, a expansão anual média das despesas foi de 6% acima da inflação. De 2008 a 2015, isso se acentuou e elas cresceram 50% acima da inflação enquanto a receita subiu apenas 17%.
Esse processo, somado com a queda do crescimento, fez a dívida pública disparar 12 pontos percentuais em relação ao PIB só entre o final de 2013 e de 2015. Ela já está em 61% do PIB e pode chegar a 80% já no final de 2018, muito acima do padrão dos países emergentes.
Por quanto tempo dura?
O teto terá validade de 20 anos. A partir do décimo ano, o presidente poderá propor ao Congresso uma mudança na metodologia de cálculo que valeria para os anos seguintes.
Como ficam Educação e Saúde?
Os gastos com Educação e Saúde deixariam de ter porcentagem vinculada à receita e passariam a ser apenas corrigidos pela inflação.
Esse seria o piso e nada impede que o Congresso decida colocar mais recursos nessas áreas, mas para isso teria que retirar de outras. O mérito da medida é explicitar essas escolhas do Legislativo, mas não diz nada sobre como elas serão feitas.
“O teto é parte fácil; a parte política difícil vem depois, quando tiver que decidir o que vai cortar, como gastos sociais. Como querem fazer o ajuste de longo prazo no curto, ele fica muito draconiano para poder trazer credibilidade”, diz André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos.
Entre 2003 e 2015, os gastos com saúde e educação subiram em média 6,25% e 8,5%, respectivamente, ao ano acima da inflação (medida pelo IGP-DI).
A aposta agora é em melhorar gestão e qualidade com o gasto corrente, mas resta saber se isso vai mesmo acontecer e será suficiente. “O que nós temos que discutir é a gestão da qualidade do gasto público. Isso é que tem que ser o grande foco da sociedade. A mera alocação de recursos não é o problema”, disse Henrique Meirelles, ministro da Fazenda.