Notícias
06/03/2017 Zero Hora
Governo agride a sociedade
Artigo escrito por Francisco Marshall, historiador e professor titular da UFRGS, critica governo Sartori e os pacotes votados no final de 2016. O texto foi publicado na Zero Hora de 3 de março.
O governador Sartori quer entrar para a história como autor da maior agressão jamais cometida contra a sociedade gaúcha. As medidas do pacote legislativo do final de 2016 em nada avançam na resolução da crise financeira do Estado, não atacam causas nem mitigam danos acumulados, mas realizam um grave ataque a institutos importantes, todos muito favoráveis ao desenvolvimento econômico e social. O que move o governador e sua equipe a realizar este ataque e impor à sociedade gaúcha perdas irreparáveis?
Não houve estudos a embasar a decisão peremptória pela extinção das fundações, ou, como caberia, para otimizar seu desempenho e superar eventuais problemas. A sociedade assiste estarrecida a este ataque catastrófico, cujo resultado será o recuo das condições sociais na região, com menos potência em ciência, cultura e conhecimento técnico aplicado. O quadro real é o contrário do que justificaria este ataque: as fundações têm apresentado desempenho substantivo e fecundo, com atualidade. Não há economia orçamentária em vista, mas despesas e agravamento de nosso quadro econômico e fiscal. Engana-se quem aceita a justificativa de economia, falaciosa.
Próceres do PMDB e da sociedade civil tentam esclarecer o caso e reverter as medidas ora impostas, mas voltam desolados do Palácio, onde não há diálogo. Examina-se o currículo dos autores do pacote em busca de méritos acadêmicos ou experiências bem sucedidas na vida pública, e a colheita é nula. Compreende-se, assim, que temam debater, no parlamento, na imprensa ou em outros cenários de diálogo. Temer é ruim na vida pública; se dizem ter coragem para impor medidas amargas, deveriam tê-la para dialogar com a sociedade bem intencionada, analisar o quadro e construir soluções visando ao bem comum, mas parece faltar conteúdo e coragem. A recusa ao diálogo é grave agressão antidemocrática, pois tais medidas não constavam no programa do candidato eleito e não foram examinadas pelo voto.
À falta de estudos, argumentos e diálogo, a imposição destas medidas revela-se unicamente como ação de fundamentalismo ideológico, acomodada em programa de Estado reducionista e insensível, tragicamente epidêmico, submisso e órfão de consistência quando analisado com responsabilidade. Não há luz ou razão que faça o governador despertar deste transe catastrófico?