Artigo do auditor-fiscal da Receita Estadual José Eduardo Brasil publicado na edição desta quarta-feira (9) do Jornal Correio do Povo.
A ciência econômica é muito sábia ao referir que "os
recursos são escassos”. Ora, diante dessa verdade insofismável, o que nos resta
fazer? Resta ser muito diligente e responsável no momento de decidir onde aplicá-los.
Vale ressaltar que essa conclusão independe de uma visão de Estado mínimo ou
mais intervencionista. O RS, não muito diferente de outros entes federados,
criou e vem criando estruturas estatais que acabam por competir entre si pelos
recursos necessários ao seu funcionamento. Para um mesmo volume de arrecadação,
quanto mais destinatários desses recursos houver, menos cada um receberá. Isso
explica em boa parte a baixa qualidade dos serviços públicos que são prestados
a uma sociedade cada vez mais exigente e ciente de seus direitos.
Nesse universo
complexo por natureza, o Estado desconhece a si mesmo: não possui indicadores
básicos que possam revelar quanto cada órgão ou entidade de fato contribui para
a sociedade. Esse desconhecimento é o que provoca sucessivas medidas de governo
que atingem igualmente a todas as entidades, do tipo "corte-se X% do orçamento
de cada uma”. Ora, tais estruturas apresentam desempenhos distintos que
deveriam ser levados em conta na hora de tomar decisões tão importantes. Se
isso fosse levado em conta, estaríamos estimulando a boa gestão, a eficiência e
a eficácia. Mas, não, estimulamos uma cultura que desmotiva o servidor e pune o
bom gestor.
Sabe-se, também, que o RS criou estruturas de Estado que se fizeram
necessárias em determinado momento de sua história. O problema está em não
rever tais estruturas, seja para atualizá-las, seja – se for o caso -, para
descontinuá-las. Isso seria a coisa mais natural se fôssemos uma sociedade preocupada
com o bem comum e com a boa utilização dos recursos púbicos. A nossa democracia
precisa evoluir para enfrentar tais debates de forma madura, à luz dos
princípios constitucionais e com foco no bem comum. Isso fará com que tais
assuntos deixem de ser tabu e possam entrar na pauta do debate.
Hoje, o dito "custo
político” de medidas tidas, a priori,
como antipáticas reforçam o processo de se empilhar estruturas que não mais
cumprem a função para a qual foram criadas, mas, a conta continua chegando para
ser paga todo o mês. A crise gaúcha é uma oportunidade para o RS ajustar seu
curso. É uma grande oportunidade para as lideranças que hoje conduzem o Estado
fazerem a coisa certa, com transparência e foco no bem comum.