Artigo escrito pelo Auditor-Fiscal da Receita Estadual e diretor de Comunicação do Sindifisco-RS, Christian de Azevedo, publicado na página 2 do jornal Correio do Povo do dia 09/08/2016.
Em todo momento de crise, os
primeiros a serem atacados são os servidores públicos. Isso não é por acaso. Há
um "mantra” que ecoa na sociedade, entoado pela classe empresarial. Nos versos
desse mantra, os servidores públicos aparecem sempre como os grandes culpados
pela crise que o Estado passa, como se fossem os únicos a gerarem gastos ao
governo. Não há, entretanto, qualquer menção ao que o Estado brasileiro deixa
de arrecadar por conta de benefícios fiscais e de sonegação. Em 2014, segundo
informações da STN, o setor público do país destinou mais de R$ 650 bilhões
para despesa com pessoal e encargos sociais. Um valor alto, porém, abaixo das
estimativas de quanto o país deixa de arrecadar em virtude da concessão de
benefícios fiscais e da sonegação, que, juntas, devem ter passado dos R$ 800
bilhões naquele mesmo ano.
Os servidores públicos,
desde o ano passado, têm enfrentado severos ataques a seus direitos,
especialmente no que se refere a congelamento de salários, contrariando
expressamente a Constituição Federal, e modificações nos sistemas de
previdência, que cada vez mais rumam para abarrotar os cofres de instituições
financeiras privadas. O "mantra” novamente esteve por trás disso, por meio do
Movimento Brasil Competitivo, tendo como epítomes o PLP 257/2016 e a PEC
241/2016.
Tido por alguns políticos e entidades
empresariais como salvação das contas públicas estaduais, o PLP 257/2016 passa
a falsa impressão de solucionar o problema da dívida dos estados, porém, além de
não se diminuir seu saldo devedor, as contrapartidas impostas aos entes
subnacionais acabam por torná-los ainda mais reféns do governo central.
Atacar os servidores
públicos nunca foi, nem será, a melhor solução para o Estado brasileiro sair da
crise. Pelo contrário, a solução para a crise passa necessariamente pelos
servidores públicos, afinal o que é o Estado senão esse conjunto de cidadãos que
trabalham diariamente para mantê-lo funcionando?
É preciso rediscutir o pacto
federativo brasileiro, eliminar as imperfeições e injustiças de nosso sistema tributário
nacional, revisar totalmente os contratos da dívida pública do final da década
de 1990 e, por fim, fortalecer os Fiscos, para que possam trabalhar com autonomia,
trazendo cada vez mais recursos ao Estado, sem aumentar tributos, e combatendo
a concorrência desleal, que traz perda de empregos e inflação.