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E o bonachão era o Coringa
Sul 21
Artigo escrito pelo auditor-fiscal aposentado Guilherme Cassel e publicado no site do Sul 21 no dia 28 de novembro de 2016.
Em 2015, um senhor de ar bonachão e dado a tiradas bastante simplórias, ganhou as eleições para Governador do Rio Grande do Sul. Ainda entre o primeiro e o segundo turno, quando perguntado sobre pagar ou não o piso salarial para o magistério, ele afirmou que essa questão de piso deveria ser tratada no Tumelero. Muitos deram boas risadas.
Já eleito ele confessou que não tinha nenhum plano ou programa para governar e defendeu isso como uma virtude. Cansados da politicagem tradicional, muitos acreditaram que estava aí a nova forma de fazer política. E brindaram.
No governo, como de fato não sabia mesmo o que fazer e vendo que os problemas se acumulavam diante da sua apatia, ele correu para procurar os culpados, sempre na boa sombra dos guarda-chuvas da grande imprensa. O Governador anterior foi o primeiro. Depois foi a vez da Dilma, do PT e, mais adiante, da crise econômica global. Já um tanto desconfiados, muitos ainda compraram a versão e seguiram confiando.
Acontece que quando nada se faz, os problemas não desaparecem; pelo contrário, se avolumam. Então ele, que já vinha sucateando as escolas, os hospitais e os aparelhos da segurança pública, se viu sem dinheiro para pagar o funcionalismo. Disse que a culpa não era dele, era dos governos anteriores e, sem nenhuma cerimônia, passou a parcelar os salários dos trabalhadores. Chegou a depositar a indecente quantia de R$ 450,00 em uma primeira parcela. Muitos ainda acreditaram nos argumentos do Governador, pensando que se tratava de uma situação pontual, uma dificuldade de um ou dois meses. Mas o tempo passou e ele já vai parcelar os salários pelo décimo mês consecutivo e não quer pagar o décimo-terceiro salário. Depois disso, ao que parece, alguns já começam a questionar aquela aura de singeleza e simplicidade e passam a enxergar no Governador e no seu governo, traços de sadismo e alguns comportamentos maquiavélicos.
Vamos adiante: não se trata só do funcionalismo e dos salários parcelados. As estradas seguem intransitáveis, as escolas estão em petição de miséria e a saúde pública agoniza. E ficou difícil sair às ruas sem medo de ser assaltado. Não há quem neste Estado se sinta seguro. Tem assassinato em pleno aeroporto e preso sendo algemado em lixeiras; quadrilhas comandando crimes de dentro dos presídios e escolas sendo fechadas por falta de segurança. E, conforme o Governador, tudo é culpa dos governos anteriores, do PT, da crise, das órbitas de Plutão e dos anéis de Saturno. Só que agora, aqueles muitos que lhe davam audiência, têm lhe escutado meio de lado, sentindo-se um pouco trouxas e, sabe-se, esse não é um bom sentimento.
Mas, tchan!, se a Segurança Pública era um problema, o Governador tinha uma carta na manga. Exonerou o Ex-Secretário e Delegado e nomeou quem? Quem? Cezar Schirmer, o Prefeito da Kiss. Aqui neste Rio Grande amado, o inacreditável acontece e assume ares de normalidade. Desta vez, os que ainda restavam caíram em si e desistiram. Cumpriu-se a máxima: nada é tão ruim que não possa piorar.
E agora, por fim, o Governador bonachão, com um sorriso de Papai Noel entrega para a Assembleia Legislativa, um saco cheio de Projetos de Lei que tiram empregos, privatizam empresas públicas e retiram do funcionalismo público alguns direitos trabalhistas consagrados na Constituição. Quer vender tudo à vista, mas continuar pagando no longo prazo. Lembram daquela risada do Coringa no final do filme do Batman? Pois é, o sujeito simples e bonachão na verdade era uma espécie de Coringa. Faz parte do núcleo duro do PMDB, dos amigos das privatizações, da turma do Simon, do Britto, do Gedel, do Pezão, do Eliseu Padilha, do Jucá.
E eu fico pensando que nos quatro anos do Governo Tarso, o Rio Grande viveu sem sobressaltos; com dificuldades sim, mas com os problemas sendo enfrentados com clareza, com a participação ativa de todos os interessados e, principalmente, com políticas eficazes, seja para o enfrentamento das dificuldades financeiras, seja para estimular o desenvolvimento econômico. E muita gente fazia cara feia.
Voltando ao ex-bonachão, agora Coringa, ele apareceu novamente em grande estilo na semana passada, afirmando que não tem Plano B para o caso de o seu pacote não ser aprovado. Assim mesmo: o sujeito que já não tinha projeto nem programa para governar, que não tinha culpa de nada pois os culpados eram outros, agora não tem sequer um Plano B se o seu plano maquiavélico não vingar. Mas faz o que no Governo? Lembram do Coringa nos filmes do Batman? Ele é o Palhaço do Crime. Comete todas as maldades possíveis, sempre com um humor corrosivo, quase simpático, mas com uma carga de sadismo explícita. No início, chega a ser quase encantador, envolvente, mas com o decorrer da trama, todos queremos assistir à sua derrocada. É o que parece estar acontecendo por aqui. A declaração do ex-bonachão, de que não tem Plano B, não tem nada de singelo. Não é uma simples confissão, é uma ameaça. Planejada e calculada. Um golpe do Coringa.
Agora que caiu a máscara, nos cabe derrotá-lo.