Artigo escrito pelos diretores Jorge Ritter e Paulo Kronbauer foi publicado na página 4 do Jornal do Comércio do dia 27 de novembro de 2017.
Jorge Ritter e Paulo Kronbauer
A corrupção causa mal-estar, e a sociedade perde confiança nas instituições. Em sua passagem por Porto Alegre, Gilles Lipovetsky, citando seu país, a França, descreveu "o desencanto com as grandes ideologias, descrença no poder do Estado de reformar o mundo e dominação do mercado". As palavras de Lipovetsky aplicam-se ao Brasil. Para o professor Francisco Rüdiger, "a moralidade pública foi ultrapassada pela ganância privada". Segundo a Transparency Internacional, o Brasil ostenta a 79ª posição no ranking de percepção de corrupção.
Segundo Alberto Vanucci, professor de ciência política da Universidade de Pisa, Itália, estudioso da Operação Mãos Limpas (Mani Pulite), nos anos 1990, congênere da Lava Jato, o trabalho do juiz Sérgio Moro poderá ensejar o aparecimento de "uma nova espécie de corruptos e corruptores", fato similar à seleção darwiniana. Para o professor, a Lava Jato não é o suficiente! Citou a necessidade de educação pública, cultura cívica e formação de terreno político com mecanismos de participação social. A Mani Pulite, liderada por Antonio di Pietro, revelou o sistema de corrupção conhecido como cidade da propina (tangentopoli). A investigação incriminou chefes de partido, ex-ministros e autoridades, além de empresários.
Segundo Moisés Naím, autor do livro O fim do poder, a operação implicou os maiores partidos, levando-os à irrelevância. A Mani Pulite não eliminou a corrupção, mas mudou o cenário, preparando o palco para novos atores. Pela direita, surgiu o Forza Italia, de Sílvio Berlusconi. Os juízes novamente foram protagonistas durante o reinado de Berlusconi, envolvido em escândalos e inquéritos. Os estudiosos alertam para o perigo das ligações entre políticos e capital. O sistema eleitoral passou a ser fonte de corrupção. Não combateremos a corrupção se não forem criadas legislação e fiscalização fortes, conclui o cientista político Marcus Ianoni. A esperança que surge agora exigirá muito empenho de todos nós.