As duas propostas ferem o princípio da progressividade no imposto de renda, uma das premissas da Reforma Tributária Solidária –um projeto que analisa profundamente o sistema tributário brasileiro e dos principais países do mundo, escrito por 40 especialistas no assunto. Quem ganha mais deve pagar mais, quem ganha menos, deve pagar menos. Em qualquer uma das duas, quem ganha menos gasta uma parte proporcionalmente muito maior da própria renda com impostos. Sobrando menos dinheiro no bolso do cidadão para gastar com alimentação, saúde, educação, qualidade de vida… Resultado: mais desigualdade para o Brasil e continuidade da grave crise econômica que vivemos.
Se analisarmos as alíquotas-teto de IR praticadas nos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico), vemos que são muito maiores do que a brasileira –que atualmente é de 27,5%. Como na Bélgica (50%), Holanda (52%) e Suécia (57%), sem contar os países latino-americanos Argentina (35%) e Chile (40%). Assim, podemos ver claramente que o problema não mora em termos uma alíquota alta de imposto de renda e, sim, que ela pese demais para a camadas de mais baixo poder aquisitivo –ou seja, a grande maioria do povo brasileiro, pois, atualmente, a renda média do país é de 2.000 reais.
Diferente do que ocorre nas economias desenvolvidas, a carga brasileira é concentrada em tributos indiretos e regressivos, não em tributos diretos e progressivos. Ou seja, se taxa mais o consumo, que é imposto indireto, do que o patrimônio e a renda, que são diretos. Especialistas da Reforma Tributária Solidária fizeram uma simulação que mostra que uma mudança correta da tabela e da incidência do imposto de renda de pessoa física pode isentar 14 milhões de pessoas e, mesmo assim, dobrar a arrecadação. Uma aproximação do perfil (renda, patrimônio e consumo) do modelo tributário brasileiro ao da média da OCDE, pode resultar na diminuição dos tributos sobre o consumo dos atuais 50% para algo em torno de 40%. Se considerarmos tão somente o impacto da tributação, por exemplo, sobre a gasolina —item estratégico, tanto para a economia familiar, quanto para a economia nacional— isso significa que o preço médio na bomba de 4,50 reais, poderia seguramente ficar abaixo de 4,00 reais.
Precisamos de propostas que impulsionem a economia, melhorando a vida de todos –principalmente da camada mais desfavorecida da população. É preciso conhecimento e olhos bem abertos para não acreditarmos em soluções frágeis e populistas que aprofundam a já abismal desigualdade no Brasil.