Paul Krugman é uma das minhas referências em economia. Americano, prêmio Nobel no seu campo, ele enfrenta os neoliberais sem medo de derrubar mitos. Outro dia, ele analisou as comparações entre Estados Unidos e França. A direita teme que democratas transformem os Estados Unidos numa França engessada e atrasada tecnologicamente: “Só para esclarecer, a Europa tem grandes problemas econômicos. Mas não são aqueles que essas pessoas parecem imaginar”. A Europa, explica ele, era vista como um espaço emperrado por altos impostos, que dificultavam a criação de empregos, e por lentidão na inovação tecnológica, atrasada até apropriação das novidades da Internet.
Primeiro pontapé nos mitos repetidos como verdades beminformadas: “Mas tudo isso foi há muito tempo. A lacuna de empregos desapareceu amplamente; os adultos em seus primeiros anos de trabalho têm mais probabilidade de serem empregados na Europa, incluindo a França, do que nos Estados Unidos”. E agora? Segurem-se, neoliberais, pois tem mais. Segundo chute no estômago dos falsificadores: “Qualquer lacuna na adoção da tecnologia da informação também desapareceu há muito tempo; as famílias em grande parte da Europa têm a mesma ou maior probabilidade de ter banda larga do que as americanas, em parte porque a falha dos EUA em limitar o poder de monopólio dos fornecedores levou a preços muito mais altos pelo acesso à Internet”.
Gritos e insultos: o PIB per capita dos Estados Unidos é maior! Resposta de quem entende do assunto, Paul Krugman: “Isso ocorre principalmente porque, diferentemente da maioria dos americanos, a maioria dos europeus tem um período de férias significativo e, portanto, trabalha menos horas por ano. Isso soa como uma escolha sobre o equilíbrio entre vida profissional e familiar, e não um problema econômico”. Uma escolha de civilização. Ponto para a Europa. Outro coice fulminante: europeus vivem mais: “Franceses podem esperar, em média, viver mais de quatro anos a mais que os americanos. Por quê? Cuidados de saúde universais e políticas que atenuam a desigualdade extrema são as explicações mais prováveis”. Comunista esse Krugman? Keynesiano. Escreve no New York Times. É um Messi em economia.
Tudo é bom para ele na Europa? Não. Ele aponta defeitos: “A Alemanha tem um medo obsessivo de déficits, mesmo quando a economia europeia precisa desesperadamente de estímulo”. O problema não está em gastar muito, mas em gastar pouco: “A economia europeia é vulnerável porque uma combinação de fragmentação política com rigidez ideológica deixou seus políticos pouco dispostos a ser keynesianos o suficiente”. Conclusão: “Os problemas da Europa são argumentos para mais intervenção do governo, não menos”. O que se debate nos Estados Unidos: “Vamos discutir se ‘Medicare para todos’, impostos sobre a riqueza e outras propostas progressistas são realmente boas ideias. Mas tentar derrubá-las falando sobre como as coisas estão terríveis na França é um sinal claro de que você não tem ideia do que está falando”. Se eu dissesse isso sozinho seria chamado de ignorante.