O insulto desferido pelo ministro Paulo Guedes contra os servidores públicos, mais que um destempero verbal ou mera demonstração de incivilidade, é a expressão do desprezo (verdadeiro) que nutre o ministro pelo serviço público.
Não estava o ministro sob violenta emoção quando proferiu a ofensa. Estava bem à vontade, em lugar seguro e na companhia dos seus iguais.
Guedes considera menores e desprezíveis todos os que dependem do trabalho, sentimento que encontrou terreno fértil no atual governo. Basta lembrar agosto do ano passado, quando o presidente Bolsonaro declarou que a vida dos patrões é tão difícil quanto a dos desempregados.
De um lado, o trabalho, representado pelos servidores públicos; do outro, o capitalismo improdutivo, representado por Paulo Guedes. Por enquanto, ampla vantagem para o segundo.
A vida desse personagem não está associada ao trabalho produtivo. Vida ganha à custa do Estado que tanto maldiz.
Nada há de mais parasitário que a carreira de Paulo Guedes, feito e mantido ministro por obra e graça do mercado, a ponto de não precisar sujeitar-se à autoridade do presidente da República.
Que a sinceridade espargida pelo ministro mais poderoso do governo sirva para retirar um sem-número de servidores públicos desse angustiante estado de alienação, adesismo e entorpecimento.
Que a resposta dos servidores públicos de todo o Brasil não se limite ao justo repúdio, porque já não bastam a indignação, a queixa, o desabafo.
É preciso ir além.
É preciso unir os “parasitas” que salvam vidas nos hospitais, nos postos de saúde e nas ambulâncias; os que educam, orientam e aconselham nas escolas; os que protegem, socorrem e resgatam nas enchentes, incêndios, acidentes e assaltos; os que combatem a sonegação e o contrabando; os que inspecionam a segurança no trabalho; os que fiscalizam a qualidade dos alimentos; os que garantem assistência aos despossuídos; os que vacinam os nossos filhos.
É preciso ir além do WhatsApp, além das conversas de corredor, além da crítica pelo que deixou de ser feito, além da raiva, além da culpabilização do outro, além da terceirização de responsabilidades, além da assembleia, além do murmúrio, além das diferenças e disputas, que são muitas.
É preciso ir além do ambiente fechado e do espaço virtual.
É preciso parar o Brasil antes que as políticas parasitárias de Guedes acabem com o serviço público.
É preciso ir às ruas, “parasitas”!
*Auditor Fiscal de Receitas do Estado do Pará e presidente da Federação Nacional do Fisco Estadual e Distrital (Fenafisco)