Na esteira de colegas americanos, alguns economistas destas nossas plagas têm defendido a tese de que o Estado que emite sua própria moeda não tem restrições financeiras, por conseguinte, não precisa equilibrar receitas e despesas. Não levam em conta, principalmente, a realidade completamente diversa dos EUA, em especial, pelo fato dos aborígenes do mundo inteiro comprarem dólares com grande avidez, pois os consideram um bem de alto valor em si mesmo.
Em artigo “A nova política monetária”, publicado no jornal Valor Econômico de 9/6/20, a jornalista Maria Clara do Prado traz ideias da “articulada economista” norte-americana Stephanie Kelton, defensora da MMT – Modern Monetary Theory, que vai mais longe e diz que “é o emissor de moeda, ou seja, o governo, e não os pagadores de impostos, que financia os gastos públicos”. Assim, sem qualquer crítica, a articulista apoia tal afirmativa.
Apesar das diversas acepções, seria absurdo atribuir o “financiar” ao executor da saída do caixa. Dessa forma, se não são os pagadores de impostos que financiam os gastos públicos, há um interessante sadomasoquismo no comportamento governamental.
Realmente, se o próprio governo financia seus gastos com a emissão de moeda, causa de prazer imediato e generalizado, qual seria o motivo para a cobrança de impostos, ou seja, a extração coercitiva de parcela do patrimônio do cidadão-eleitor, que sempre vem impregnada de considerável repulsa?
Nesse aspecto, a MMT não é tão nova assim, muitos governantes já a professaram. No Brasil, o caso mais emblemático é o de Juscelino, que emitia moeda numa verdadeira compulsão e, até hoje, é considerado um grande e iluminado presidente, mas na verdade, um dos principais causadores do golpe de 1964 com o desequilíbrio das contas públicas e inflação avolumados a partir de 1959.