Nestes tempos de trágica pandemia é preciso refletir sobre a lógica econômica. Mais precisamente sobre alguns dogmas que se solidificaram durante décadas na visão neoliberal e que começam a desmoronar. A ideia do Estado Mínimo, por exemplo, está se esfarelando. Nem se fala mais em rigoroso controle fiscal dos gastos públicos ou superávits, resultados que custaram historicamente elevados prejuízos à população pobre do país.
Bastou doer em seus bolsos e megaempresários representantes do pensamento neoliberal, até então contrários à intervenção estatal, passaram a clamar por um bilionário aporte de dinheiro público em direção ao caixa de suas empresas para socorro dos negócios (privados). Não há dúvidas que é preciso auxílio para manter de pé as micro e pequenas empresas, assim como também é correto garantir renda mínima aos empregados, desempregados, trabalhadores informais, autônomos e microempreendedores individuais. O que espanta e impressiona foi a velocidade com que os grandes empreendedores correram na carona dos pequenos e sequer ficaram corados.
Com a repentina adesão de muitos à ideia do Estado Máximo, defendo que ele não deve ser nem um nem outro: o Estado precisa ser do tamanho das necessidades do seu povo. Além disso, a pandemia nos mostra que o Estado precisa de uma polpuda reserva de contingência para fazer frente às necessidades causadas por calamidades, além de garantir um mínimo de renda para uma vida digna àqueles que mais precisam. Nessa mesma direção, as grandes empresas também precisam de reserva formada de parte dos seus lucros para fazer frente às turbulências que possam ocorrer no futuro.
A globalização, outro tema dileto aos pensadores do capitalismo sem freios, também merece uma reflexão profunda. A Santa Globalização empurrou goela abaixo dos cidadãos do mundo inteiro a ideia de que cada país pode pela livre iniciativa de seus agentes econômicos produzir apenas o que quer e que a especialização da produção em larga escala por países é o caminho para o barateamento dos produtos e serviços, bem como para o crescimento da economia global. Agora, vemos centenas de países correndo atrás de produtos estratégicos fabricados por uma única ou poucas nações. Não é possível que nosso país não tenha capacidade instalada ou conhecimento suficiente para a produção de máscaras, do reagente necessário para os testes de detecção da Covid-19 e dos respiradores.
Por fim, vale enfatizar, que as críticas ferozes contra o serviço público e seus servidores encontram cada vez menos eco. Os servidores públicos e o Sistema Único de Saúde (SUS) estão na linha de frente do combate à pandemia no Brasil, mostrando seu valor e seu comprometimento com a sociedade.
As lições da pandemia nos encaminham para um novo princípio. É preciso unir esforços da iniciativa privada e do setor público, sem ranços ou extremismos. Na mesma esteira, é preciso juntar os preceitos do capitalismo social com as regras do socialismo do capital para se evitar o colapso da economia. A boa notícia é que logo mais adiante venceremos a pandemia da Covid-19 e recuperaremos a economia brasileira com a nitidez de vermos o que será melhor para o nosso país.