O boletim Focus divulgado no último dia 18, pelo Banco Central do Brasil, mantém a previsão de queda no PIB brasileiro para 2020 4,4%. Para 2021, o relatório revisa levemente para baixo a previsão de crescimento da economia de 3,5% para 3,46%. Em janeiro, o documento apontava otimismo, com expansão do produto interno em 2,3%. Até então, pouco se sabia quanto ao potencial de alastramento do Covid a partir da China.
À medida que foram ficando mais claros os indícios de uma pandemia global, as previsões foram sendo revisadas para baixo. No dia 20/3, o relatório apontou uma expectativa de que o PIB crescesse 1,48% em 2020. A “ficha” do mercado só parece ter caído, todavia, na medição seguinte: no dia 27/3, a projeção apresentada foi negativa, em -0,48%. Ainda assim, uma expectativa bastante otimista frente à pandemia que se alastrava de forma acelerada pelo mundo.
Desde então, a “ficha foi caindo” de forma persistente, até atingir seu patamar mais baixo, em torno de -6,5%, no início de junho, mesmo com projeções do Banco Mundial e do FMI, para a economia brasileira, de queda em torno de 9% em 2020. Um mês depois, as expectativas passaram a melhorar uma medição após a outra, até chegar na casa dos cerca de 4,5% de queda previstos.
Quanto à relação dívida-PIB, o documento aponta que a dívida líquida do setor público deverá fechar o ano em 65,2%, um salto de cerca de 15% em relação ao dado constatado em março. Já para a inflação, o relatório aponta que o IPCA deverá crescer 4,39% em 2020 e 3,37% em 2021, pouco acima da previsão anterior, mas dentro da meta estabelecida pelo Banco Central para este ano.
As projeções do mercado, desde 2017, têm sido exageradamente otimistas. Apesar de alguns sinais claros de retomada da atividade econômica, sobretudo a partir do final do segundo trimestre deste ano, quando passaram a ser pagas as parcelas do auxílio emergencial, os possíveis fim deste, a segunda onda da pandemia e a massificação das vacinas precisam ser levados em conta, o que, sem dúvida, lança um cenário bastante desafiador a qualquer economista que almeje projetar 2021.
No que diz respeito ao aumento da relação dívida líquida do setor público e PIB, já era esperado, não apenas pelo aumento dos gastos do governo com transferências, mas, principalmente, pela redução da atividade econômica em decorrência da pandemia, que poderia ter sido muito maior não fosse o auxílio emergencial.
Quanto à inflação, não há mais dúvidas, mesmo entre os mais apegados ao monetarismo clássico, que os temores de descontrole inflacionário, no início da pandemia, quando se cogitava conceder o auxílio emergencial, foram totalmente infundados. As previsões de inflação continuam, todas, confortavelmente dentro da meta estipulada pelo Copom – Comitê de Política Monetária.
Enfim, de novo a reflexão a ser feita é: o que deve ser resolvido no momento, o aumento da dívida ou o baixo crescimento da economia?
De qualquer modo, parece que o pior já passou, e a retomada já começou.
O auxílio emergencial foi o fator determinante nessa retomada da economia. Não só, apesar do exagerado otimismo, o relatório Focus aponta isso, mas o próprio índice de confiança do consumidor (FGV), que, de janeiro a maio, havia caído mais de 17% e, desde então, já acumula alta de mais de 10%, já ajustado pelo fator sazonalidade.
Para o ano que vem, ao que tudo indica, a economia deverá crescer de forma mais consistente, mas, novamente, um número inferior à projeção do mercado, que, hoje, está em aproximadamente 3,5% para 2021.