Quando o covid-19 desembarcou em terras brasileiras, nosso presidente tentou insistentemente minimizar os efeitos da pandemia, os quais já eram bastante visíveis na Ásia e na Europa. Em seguida, iniciou uma guerra contra os governadores que expediam decretos fechando algumas atividades econômicas, a qual terminou por envolver o STF e o Congresso Nacional, com direito a manifestações antidemocráticas, apoiadas publicamente pelo presidente às portas de seu palácio. Até mesmo seu ministro da Saúde virou alvo de sua “caneta” e acabou demitido por não se colocar contra as medidas de isolamento social de alguns estados.
Era evidente que Jair Bolsonaro estava preocupado com a economia e certamente com sua reeleição em 2022, a julgar pelo embate particular e feroz com o governador de São Paulo, João Dória. Como político experiente, Bolsonaro sabe muito bem o quanto a questão econômica é chave para definir sua continuidade na presidência nas eleições do ano que vem. A morte de alguns milhares de idosos, conforme várias de suas declarações durante a pandemia ou até mesmo antes, não deveria ser motivo para se parar a economia e provocar o fechamento de empresas e o desemprego em massa.
Veio o auxílio emergencial, e o aumento da popularidade do presidente após brusca queda nos dois primeiros meses de pandemia mostrou que a velha máxima “a economia dita a política” continuava em plena validade, o que provou que o raciocínio de Bolsonaro estava correto no sentido estrito do resultado político a ser alcançado, mesmo que ao custo da vida de milhares de brasileiros. Ainda que os familiares destes venham a se tornar não eleitores futuros do presidente, aqueles que tiveram os empregos e/ou a renda mantidos, quando não ampliada, certamente são em número muito maior, daí a única possível explicação para o aumento da popularidade de Bolsonaro em plena pandemia.
O debate, inútil e equivocado, entre vida e economia parece, enfim, ter chegado a uma solução: a vacina.
O problema é que, mais uma vez, como em todo fato de grande relevância nacional, o presidente-candidato, o que, a rigor, nunca deixou de ser, aproveita o momento para novamente incitar sua claque e suas milícias digitais, mantendo-os engajados constantemente. Esse modus operandi parece já bastante evidente: cria-se uma teoria da conspiração, elege-se um inimigo e fomenta-se um discurso de ódio, que cresce exponencialmente nas redes sociais. Já, para aquele contingente que realmente define uma eleição, o discurso parece também bastante óbvio: mesmo com a pandemia, o governo brasileiro fez de tudo para manter os empregos e a renda dos brasileiros. Aos oponentes, entretanto, parece não haver nenhuma clareza na forma de contra-atacar, e muito menos de engajar apoiadores.