O último boletim Focus aponta, pela quinta vez consecutiva, aumento na expectativa de inflação para 2021. Há um mês, o IPCA estava previsto em 3,53% e há uma semana, 3,35%. No dia 05-02, entretanto, a expectativa do mercado saltou para 3,6%. Já o IGP-M saiu de 4,6% há um mês para 6,57% há uma semana e 6,65% na última medição.
As previsões do mercado se aproximam perigosamente do centro da meta para 2021, fixado em 3,75%. É evidente que os analistas apostam em uma retomada da economia para este ano, já que, desde maio de 2020, as previsões para o PIB brasileiro se mantêm otimistas, com pouca oscilação entre 3 e 3,5% de crescimento. O mês de maio, não por acaso, foi aquele em que a pandemia fez a atividade econômica chegar ao fundo do poço, de onde veio saindo com os pagamentos, pela União, dos auxílios emergenciais e das transferências para Estados e Municípios. Por outro lado, desde dezembro, o mercado vem apontando a expectativa de melhora na dívida pública brasileira, obviamente sem levar em conta a possibilidade de reedição do auxílio emergencial.
De fato, um cenário em que se tem a expectativa de elevação de preços, em geral, leva em conta o crescimento da economia e, ao mesmo tempo, a melhora nas contas públicas. Uma economia aquecida, geralmente, pressiona os preços e, assim, eleva a arrecadação, especialmente de impostos vinculados, direta ou indiretamente, ao consumo de bens e serviços. De outra parte, as despesas do governo, em sua maior parte, não estão atreladas de forma tão imediata à inflação, o que acaba por proporcionar essa melhora nas contas públicas. É claro que uma elevação de preços, apesar desse efeito benéfico às contas públicas, não é desejável, especialmente do ponto-de-vista social, pois os mais penalizados serão, sem dúvida, os mais pobres, que não têm suas rendas vinculadas a preços e verão seus itens de consumo se elevarem acima do que auferem.
De qualquer forma, como tem sido a tônica do relatório Focus nos últimos anos, o mercado parece se mostrar bastante otimista ao prever um IPCA de apenas 3,6% e um crescimento do PIB de 3,47%, taxa que é mais do que o triplo do que o Brasil vem apresentando nos últimos anos, especialmente num cenário de indefinição quanto à reedição do auxílio emergencial e da vacinação em massa da população e ainda mais porque o Banco Central deverá, para conter a inflação, elevar a Selic, freando, assim, a economia.