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Artigo | Retórica neoliberal e o baronato financeiro
Juliana Brizola/Jornal do Comércio
A propaganda neoliberal é disseminada como promessa para retomada econômica. Vendem que basta abrir as fronteiras ao livre-comércio e ao trânsito de capitais especulativos, cabendo ao Estado exercer apenas papel administrativo para desenvolver o País social e economicamente.
Porém, até mesmo os EUA, berço da liberdade econômica, possuem importantes casos de política protecionista. Em 2018, por exemplo, o presidente americano proibiu a compra da Qualcomm, empresa de alta tecnologia, por uma empresa chinesa.
Já o Brasil segue na contramão do mundo, entregando seu patrimônio e riquezas. Autorizou a venda da Embraer, quer entregar o setor energético (Eletrobrás) aos estrangeiros e deu início à privatização do Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec) - referência mundial na indústria de semicondutores.
Também estamos diante de outro escândalo: a aprovação da autonomia do Banco Central. Entregamos o comando da economia para os barões da banca financeira. O Brasil tornou-se o paraíso da especulação financeira e o oásis do rentismo. Cada dia mais, nos afastamos do tão almejado projeto de desenvolvimento. Afinal, por que investir e empreender quando é mais fácil ganhar dinheiro com especulação? Como gerar emprego e renda?
Aprovaram as reformas trabalhista e previdenciária e, mesmo assim, o "paraíso econômico" vendido pela cartilha neoliberal ficou apenas no imaginário. É delírio acreditar que o empreendedor vai aumentar sua produtividade só por não ter o "entrave estatal" ou por ter reduzido o custo da mão-de-obra ou, ainda, enfrentar sem ajuste cambial e alfandegário as empresas estrangeiras que estão na ponta tecnológica - que fazem uso dessa política, por vezes protecionista, além de possuírem crédito a juros negativos e escalada muito maior.
Ao que parece, existem muitas coisas que a cartilha neoliberal não explica. E talvez, por essa razão, passamos a compreender o porquê de cinco famílias brasileiras acumularem renda igual à totalidade de posses dos 100 milhões de brasileiros mais pobres.