No dia 27 de janeiro, o governador fez um importante anúncio: o compromisso em quitar a folha do funcionalismo até o mês de abril. Do ponto de vista político, o anúncio tem grande significado, com possíveis repercussões até mesmo para a eleição de 2022.
Do ponto de vista econômico, porém, há também um grande significado, que, talvez não esteja recebendo tanta atenção. Afinal, parece que todos, incluindo os próprios servidores, se acostumaram com os atrasos e parcelamentos. Entretanto, como todo economista, de qualquer campo teórico ou ideológico, admite, o consumo das famílias é uma das variáveis mais importantes, senão a principal, quando se trata de atividade econômica. De fato, sem consumo não existe oferta de bens e serviços, pois não há para quem vender. Logo, ele é o motor da economia.
Ora o consumo das famílias é a variável mais diretamente relacionada ao anúncio do pagamento em dia dos salários do Executivo, nem tanto pelo seu peso na economia, que é considerável, mas pelo seu efeito psicológico. Por estar ligada à vontade, o “querer” consumir, ou seja, a uma escolha, em última instância, pessoal, várias questões entram em jogo quando dessa tomada decisão por parte do consumidor. Nesse sentido, quanto mais incerto for o cenário econômico futuro, menor será a propensão do consumidor a efetivar suas compras.
Por quase 5 anos os servidores públicos do Executivo gaúcho viveram esse cenário de incerteza, de indefinição quanto ao recebimento de seus salários. A indefinição, por certo, não se limitou ao recebimento do salário, mas a todas a contas que tiveram de ser atrasadas ou renegociadas. Numa situação dessas, é relativo consenso entre economistas que a retenção do consumo é inevitável, pois, se não há certeza quanto ao pagamento em dia das despesas já existentes, o que se dirá de novas compras e projetos de longo prazo, que são essenciais para o crescimento de qualquer economia.
Estamos falando de R$ 1,7 bi (3,5% do PIB RS, relativos à folha de pagamento da Administração Direta e Indireta) que voltam a circular de forma previsível na economia, e previsibilidade é peça-chave para a tomada de decisão sobre consumo, pois permite que as pessoas planejem suas vidas. O ideal é que o Estado consiga, de forma definitiva, pagar os servidores públicos em dia, mas o anúncio de Leite deve, sim, ser visto como algo muito além de uma simples questão política, pois tem importante significado econômico e na vida de milhares de pessoas.