O Rio Grande do Sul não enfrentou nenhum cataclismo nas últimas décadas, mesmo assim o Governo foi à falência. Com exceção da desabalada criação de empresas estatais na década de 70 (ainda bem vivas na impagável dívida do Estado) e da autofágica “guerra fiscal’, suas finanças foram corroídas lenta e continuamente pela fácil criação de despesas de “menos de meio por cento”. De fato, diante do gigantismo, do poço de ineficiência e do oceânico desperdício do aparato estatal, tudo é carência e muito pouco funciona. Para cada problema criam-se novos órgãos e novos cargos que, por óbvio, requerem recursos para seu funcionamento. Recursos que, também aos poucos, vão sendo retirados das atividades fins, principalmente, da educação, saúde e segurança.
Mas a verdadeira tragédia é a facilidade com que esses mesmos governantes conseguem recursos para enfrentar a dramática situação dos serviços públicos básicos mediante a criação de taxas ou aumento de impostos e contribuições, ou pela transferência do ônus para futuros contribuintes com a contratação de empréstimos. Situação produzida, em grande parte, pelas despesas de “menos de meio por cento”. Na criação destas despesas, a sociedade não se sensibiliza; na criação daquelas, os motivos são os mais nobres possíveis e não há como contestar sua justeza, quem se opõem quer a destruição do Estado. Passado o “sufoco”, em decorrência de alguma resistência e de certa relutância dos parlamentares, logo adiante o governante se depara com novas “necessidades, importantes e inadiáveis”, e prestidigitação recomeça, num círculo vicioso interminável.
Atualmente, concluído o primeiro ato, assistimos à execução do subsequente. Depois serem criadas novas secretarias e uma centena de cargos, o Governo, surpreso, se dá conta da grave situação financeira e, em tons dramáticos, sai em busca recursos para amenizá-la. Para todos os efeitos, uma coisa nada tem a ver com a outra. Aliás, o Governador condena cortes de gastos e afirma que os que tiverem que ser feitos o serão. O plano de sustentabilidade financeira, na verdade, é plano de sustentação de novos gastos.
Antonio Augusto d´Avila.