Bairrismos à parte, somos obrigados a reconhecer que certas façanhas gaúchas servem de modelos além-fronteiras. Algumas são boas. Foi desde o Rio Grande do Sul que o Brasil e a América Latina ampliaram seus movimentos ambientalistas, em especial este que, atualmente, se configura em uma grande família de ativistas abnegados. Se somadas, as horas de milhares de pessoas que se dedicam, ou já se dedicaram, a defender o ambiente natural sem contrapartida financeira resultaria em uma conta estratosférica. Se pagos fossem, com a moeda que o mercado conhece, o valor seria, certamente, bilionário. Mas não se trata de dinheiro.
Mesmo antes de a Agapan inaugurar o cenário de lutas ambientais persistentes, desde a sua fundação, em 27 de abril de 1971, outros gaúchos, como o padre Balduíno Rambo (1906/1961), de Tupandi, e o preservacionista Henrique Luiz Roessler (1896/1963), de Porto Alegre, com sua União Protetora da Natureza, já alertavam para o que poderia ser - visto da época - o drama que vivemos hoje, ou seja, uma crise ambiental sem precedentes, e possivelmente sem retorno ao equilíbrio climático que oportunizou, outrora, o vicejar da vida por aqui.
O que faz da Agapan, que completa 51 anos de luta ininterrupta e 100% voluntária, uma entidade precursora e com mais tempo de atividade no Brasil e na América Latina - quem sabe até do mundo - é exatamente a persistência e a continuidade que a organização ambientalista consegue manter. Desde que foi criada, milhares de pessoas já se associaram e dedicaram tempos preciosos de suas vidas em prol do lema “A vida sempre em primeiro lugar”. Lutzenberger, nosso patrono, uma celebridade internacional, dirigiu a Agapan por três gestões, seis anos. A Edi Fonseca, primeira presidente mulher, presidiu por dez anos. O ambientalista que esteve mais tempo no comando da Agapan foi o biólogo e arquiteto Francisco Milanez. Além deles, vários outros - tão importantes quanto - integraram a Diretoria e os conselhos da entidade. Continuamos lutando!
*Presidente da Agapan (Artigo publicado originalmente no jornal Correio do Povo em 27 de abril de 2022.)