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24/03/2009 JORNAL DO COMÉRCIO
Gasto do Brasil para enfrentar crise é tímido
O Brasil é o país do G-20 que menos gastou até hoje com pacotes de estímulo à economia em comparação ao PIB. Um levantamento publicado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) estimou que apenas 0,2% do PIB nacional foi gasto em estimulo à economia brasileira desde a eclosão da crise. Já o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, alertou que a crise vai exigir que os países emergentes construam um "novo modelo econômico" que favoreça o crescimento sem depender de recursos externos.
"Por décadas esses emergentes dependeram de fluxo de capital estrangeiro. Com a crise, muitos agora se encontram com déficits que não conseguem financiar", afirmou. "O FMI está disposto a apoiar esses países. Mas não será suficiente. Os países precisam reconstruir seus modelos para viver com menos capital estrangeiro", alertou. Segundo ele, poderá levar entre cinco e dez anos para que algumas nações afetadas pela crise voltem a ter o mesmo nível de capital estrangeiro entrando em suas economias. "Mas, enquanto isso, terão que levar em conta que o mundo mudou e que terão de se ajustar. Precisarão de uma nova economia para uma nova circunstância", disse. Em sua avaliação, o debate sobre o tamanho de recursos que o FMI deve ter para salvar economias vulneráveis é apenas parte da discussão. "O dinheiro, sem mudar a política, é inútil", disse. Ele admite que mudar políticas pode ser "doloroso". "Apagar um incêndio é complicado. Mas é melhor do que deixar que a casa seja destruída", afirmou.
Para ele, caberá a cada país emergente fazer sua lição de casa. "Se bancos e investidores acreditarem que os emergentes não vão sair da crise, vão repatriar seus recursos desses mercados e a situação será ainda pior", relatou. "O FMI pode ser dez vezes maior do que é hoje. Mas não vai conseguir tirar esses países da crise", afirmou Strauss Kahn. "Há uma perspectiva real de retirada de recursos. A confiança nesses mercados precisa ser reconstruída. Caso contrário, o colapso é inevitável. Por isso, insisto que a repatriação de recursos precisa ser freada para que os países emergentes sejam retirados do buraco. Precisamos garantir que esses países tenham a capacidade de atrair dinheiro", afirmou.
Segundo o levantamento da OIT, a Espanha é a líder no volume dos pacotes, em comparação a seu PIB. Os espanhóis já gastaram 8,1% do PIB para relançar a economia. A China vem em segundo lugar, com 6,9%. O terceiro posto é dos Estados Unidos, com 5,5% do PIB já gastos em planos de relançamento. Em volume, os americanos têm o maior pacote. O quarto lugar é do México, com 4,7% e duramente afetado pela recessão nos Estados Unidos. Na Argentina, o gasto já chegou a 3,9% do PIB. Já a taxa brasileira é de apenas 0,2%.
"Pedimos que, de uma forma global, o mundo destine 2% de seu PIB a pacotes", relatou. "Hoje, estamos em cerca de 1,6%", revelou. Mas ele admite que nem todos os países terão condições de estabelecer seus pacotes fiscais. "A crise colocou países que estavam perto do precipício para mais perto de uma queda. Esses governos precisam consertar seus problemas e só depois pensar em pacotes", disse. "É ingenuidade afirmar que cada país deve ter seu pacote de estímulo. Há regiões onde o risco de colapso existe de fato. Nesses locais, o FMI terá de investir muito dinheiro, já que a queda de uma dessas economias terá um efeito terrível", alertou.
> Liberações X PIB (em %)
- Espanha: 8,1
- China: 6,9
- Estados Unidos: 5,5
- México: 4,7
- Argentina: 3,9
- Brasil: 0,2
Integrantes da equipe econômica preveem crescimento pífio
Não é só o mercado que considera excessivamente otimista a previsão oficial do governo de crescimento de 2% em 2009. Na própria equipe econômica há estimativas de crescimento inferiores a 1%, próximas de 0,5%. Nessa ala mais pessimista dentro do governo, a avaliação é de que há chances concretas de uma recessão técnica no País, ou seja, de o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre deste ano ter queda em relação aos três últimos meses de 2008.
Na semana passada, o Ministério do Planejamento anunciou a nova programação financeira e orçamentária, que mudou a expectativa de crescimento do PIB de 3,5% para 2%. Segundo uma fonte, esse novo número não foi consequência de meros exercícios técnicos, mas objeto de dura negociação interna no governo. Essa fonte explicou que havia pessoas que defendiam a manutenção do número de 3,5%, enquanto outras queriam colocar uma projeção "mais realista", menor do que 2%. No grupo dos pessimistas, a avaliação é de que, além do desempenho ruim dos três primeiros meses do ano, a recuperação nos próximos trimestres será mais lenta. Mesmo assim, a visão é de que o Brasil tem uma situação "menos feia" do que a maioria dos países emergentes.
Mercado vê PIB estagnado e inflação controlada em 2009
O mercado financeiro reduziu pela terceira vez seguida a previsão para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2009 e agora projeta uma leve alta de 0,01% da economia brasileira este ano, segundo a pesquisa Focus, feita pelo Banco Central. Na pesquisa anterior, divulgada na semana passada, o mercado estimava crescimento de 0,59% para a economia brasileira este ano e há um mês trabalhava com expansão de 1,5%. Para 2010, os analistas ainda trabalham com uma recuperação da economia do País de 3,5%.
Em relação à produção industrial, o mercado aumentou o seu pessimismo e prevê queda de 2% este ano ante retração de 1,5% na semana passada. Essa é a quinta queda consecutiva na estimativa de produção industrial do mercado, que há um mês projetava expansão de 1,3%. Para 2010, pela quinta semana seguida, o mercado manteve a expectativa de alta de 4% para a produção industrial.
O mercado financeiro trouxe para baixo do centro da meta de 2009 a projeção de inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano. Segundo a pesquisa Focus, a mediana das estimativas para o IPCA este ano caiu de 4,52% para 4,42%, portanto, abaixo do centro da meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para 2009, que é de 4,5%. Foi a terceira queda seguida na projeção para o IPCA deste ano, que estava em 4,66% há quatro semanas. A última vez em que as estimativas para o IPCA em 2009 ficaram abaixo da meta foi em 9 de maio do ano passado. Para 2010, o mercado manteve a previsão em 4,5%, no centro da meta, pela 42ª semana consecutiva.
Com expectativas de inflação em queda e menor atividade econômica para este ano, o mercado também reduziu a previsão para a taxa básica de juros, a Selic, no fim de 2009, que passou de 9,75% para 9,25% anuais. Foi a segunda queda nessa projeção, que há quatro semanas estava em 10,38% ao ano.
Chile é o primeiro país da AL a entrar em recessão, diz BofA
Analistas do Bank of America (BofA) e do Merrill Lynch afirmaram em relatório que o Chile é o primeiro país da América Latina a entrar em recessão, argumentando que, em dados sazonalmente ajustados, o Produto Interno Bruto (PIB) chileno encolheu por dois trimestres consecutivos. "No quarto trimestre, em termos sazonalmente ajustados, o PIB teve uma contração de 2,1% em relação ao trimestre anterior", afirmou o relatório. Isto, aliado a um declínio sazonalmente ajustado de 0,8% no PIB do terceiro trimestre, "confirma que o Chile é o primeiro país da América Latina que se enquadra na definição de recessão técnica".
O governo divulgou na semana passada que o PIB real do país havia crescido 0,2% no quarto trimestre de 2008 em relação ao mesmo período do ano anterior e 3,2% em todo o ano passado ante 2007. O relatório afirma que o desaquecimento na economia chilena no quarto trimestre de 2008 foi evidente em muitos setores, principalmente na pesca, na mineração e na indústria, que tiveram contração de 9,4%, 5,1% e 3,5%, respectivamente, na comparação com 2007.
"O declínio mais acentuado no PIB, no entanto, foi decorrente do desaquecimento no crescimento do consumo privado para apenas 0,8%", acrescentou o documento. Os analistas reduziram a projeção de crescimento da economia chilena em 2009 para 0,2%. Para 2010, a estimativa é de uma expansão de 3,2%, ante 3,6%. "Em 2010, esperamos que o estímulo fiscal, a inflação baixa, o impacto remanescente de um afrouxamento monetário e condições externas mais favoráveis permitam uma retomada do crescimento". No início do mês, o banco central do Chile cortou a taxa básica de juros em 2,5 pontos percentuais, para 2,25%.