O PSB manteve, nas inserções políticas veiculadas ao longo da programação de rádio e televisão da semana passada, a mesma estratégia ambígua adotada pelo diretório nacional: apresentar o deputado Ciro Gomes (CE) como a principal estrela nacional do partido, sem deixar claro se ele concorrerá à Presidência da República ou ao governo de São Paulo. A legenda dividiu as inserções em dois tipos: nos 15 Estados nos quais o PSB pleiteia um cargo majoritário - governador ou senador - o espaço foi utilizado pelos presidentes estaduais e as principais lideranças locais; nos 12 restantes, as estrelas foram Ciro e o presidente nacional da legenda, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos.
Em São Paulo, apesar de, oficialmente, o partido não ter candidato ao Palácio dos Bandeirantes, o espaço foi ocupado pelo ex-líder da bancada na Câmara, deputado Márcio França. Coube a ele expor as pretensões eleitorais e a plataforma política da legenda. "Optamos por este modelo (semelhante aos outros 14) porque não definimos ainda como será nossa atuação em São Paulo. Ainda há tempo para decidirmos isto", afirmou o secretário-geral do PSB, Carlos Siqueira.
Na primeira semana de setembro, o partido levou ao ar a sua propaganda político-partidária. Nela, Ciro aparecia como o principal protagonista, dialogando com eleitores de baixa renda, simulando visitas a casas da periferia, incluindo até um simples cafezinho na cozinha oferecido por uma humilde dona de casa. Em sua fala, Ciro frisava que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva obteve diversos avanços. "Mas é preciso, agora, que um novo partido chegue para consolidar essas conquistas."
A bancada federal do PSB entende a importância de manter este suspense e corrobora a estratégia da direção da legenda. Reunidos no fim de agosto para um grande seminário, a maioria defendeu a transferência do domicílio eleitoral de Ciro para São Paulo, o que, na prática, o tornaria apto a concorrer ao governo local. Mas, segundo Eduardo Campos, os parlamentares deixaram claro que, neste momento, defendem apenas a transferência do título: "Nenhum deles abandonou a ideia de termos um candidato à Presidência da República em 2010."
Neste encontro, Ciro reforçou o desejo de se candidatar à Presidência. Disse que se sente preparado para disputar novamente o cargo. Pesquisa CNT/Sensus divulgada semana passada mostra que ele tem entre 8,7% e 12% das intenções de voto.
A direção do PSB já disse que se a candidatura própria colocar em risco a continuidade das conquistas do governo Lula - facilitando uma vitória da oposição - não será o partido o algoz dos resultados positivos obtidos até agora. Mas também avalia que a pluralidade de candidaturas da base aliada é vantajosa, pois força a realização do segundo turno, onde "as forças de esquerda poderão voltar a se aglutinar".
Outra análise interna é a capacidade de alavancar votos a partir de uma candidatura presidencial. O partido deseja consolidar-se ainda mais no cenário nacional, e, neste sentido, ter um candidato a presidente pode ajudar as candidaturas estaduais. Um dirigente do partido afirmou ao Valor que Ciro tem um bom recall, mas não valeria a pena disputar se o partido vislumbrar um desempenho muito abaixo do obtido nas duas vezes que disputou o cargo - em 1998 e em 2002.
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