31/03/2009 CORREIO BRAZILIENSE
Aumento do salário mínimo, benefícios assistenciais, investimentos em obras e gastos com a máquina impedirão derrocada maior da economia
O governo terá papel fundamental para evitar que o Brasil feche 2009 com retração na economia, fortemente impactada pela crise internacional. Foi o que reconheceu ontem o diretor de Política Econômica do Banco Central, Mário Mesquita, ao anunciar a revisão, de 3,2% para apenas 1,2%, da projeção de crescimento para o Produto Interno Bruto (PIB). Com uma ou outra exceção, as ações diretas ou indiretas do setor público vão estimular a produção e o consumo. “Em tempos de recessão ou de forte desaceleração da atividade, os gastos públicos têm efeito anticíclico e ajudam a amortizar as variações da economia“, disse.
Isoladamente, as despesas do governo com a máquina, que devem avançar 2,4%, responderão por quase a metade do crescimento do PIB: 0,5 ponto percentual. No caso do consumo das famílias, o setor público contribuirá por meio do aumento do salário mínimo e dos programas sociais, como o Bolsa Família. Se nessa conta forem incluídos os salários dos servidores, os benefícios pagos pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e o seguro-desemprego, a amplitude fica maior. Para dar uma dimensão, o diretor do BC citou a massa salarial, que combina emprego e renda. Sem os ganhos dos servidores, os gastos do INSS e o seguro-desemprego, a massa salarial crescerá 2,5% em 2009. Com a inclusão dessas fontes de renda, o incremento será de 3,5%.
Nos investimentos, a contribuição do governo virá por meio do pacote habitacional, das obras de infraestrutura do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), dos financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e dos empreendimentos da Petrobras. O PAC e o pacote habitacional também sustentarão crescimento de 2,7% da construção civil, desempenho fundamental para que a indústria, o setor mais afetado pela crise, feche o ano com ligeira alta de 0,1%. A produção industrial deve ainda ser favorecida pelos incentivos fiscais dados pelo governo, em especial ao setor automobilístico (leia mais na página 15). Nos serviços, o segmento da administração pública (saúde e educação) foi o único a ter sua estimativa de expansão elevada pelo BC, de 1,8% para 2,6%.
Na avaliação do economista-chefe da Gap Asset Management, Alexandre Maia, diante do tamanho da crise, que atingiu de forma generalizada a economia mundial e a brasileira, a intervenção do Estado é fundamental para mitigar os estragos. E aí se inclui, inclusive, a política monetária, com a redução dos juros. Mas, apesar de todos os instrumentos usados pelo governo, Maia considerou a projeção de crescimento do BC para o PIB bastante otimista. “Eu continuo apostando em queda de 0,5% para o PIB em 2009, pois não vejo uma reação rápida da economia“, disse. A seu ver, a expectativa negativa dos consumidores e dos empresários manterá atividade travada.
Segundo Mário Mesquita, do BC, o pessimismo do mercado — o consenso é de que o PIB terá variação zero neste ano — decorre do peso excessivo que se está dando ao que os especialistas chamam de carry-over ou carregamento estatístico de um ano para o outro. Nas contas do mercado, diante do tombo da atividade no último trimestre de 2008, de 3,6%, o Brasil começou 2009 com PIB negativo de 1,5%. “Esse impacto, porém, ficará concentrado no primeiro trimestre do ano. Nos trimestres consecutivos haverá crescimento, o que nos leva a projetar expansão de 1,2% para o ano“, frisou.
Para o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas Gomes, não há como falar em crescimento da economia sem a retomada do crédito. Ele afirmou que, agora, além de os bancos não estarem querendo emprestar há um problema de demanda, pois as empresas suspenderam investimentos e as pessoas físicas estão com medo de se endividarem por causa da ameaça do desemprego. Pelas projeções do BC, o desemprego subirá dos atuais 8,5% para 8,8% neste ano.
DE ONDE VIRÁ A AJUDA
Pelas contas do BC, o governo será vital para evitar que o Brasil feche o ano com PIB em queda
DO LADO DA OFERTA
Indústria
A construção civil, que tem peso importante nesse setor, crescerá 2,7%, puxada, principalmente, pelos subsídios dados do pacote habitacional e pelo PAC.
Serviços
A administração pública foi o único segmento com aumento de projeção pelo BC: avançará 2,6%, por causa dos setores de saúde e educação.
DO LADO DA DEMANDA
Investimentos
O PAC garantirá importantes obras de infraestrutura; o pacote de habitação exigirá mais desembolso das construtoras, o BNDES bancará vários projetos e a Petrobras, outros.
Consumo das famílias
Aumento do salário mínimo e programas sociais manterão poder de compra. Com salários de servidores, benefícios do INSS e seguro-desemprego, massa salarial crescerá 3,5%.
Consumo do governo
A ampliação da máquina administrativa, com a contratação de mais funcionários, levará os gastos do setor público a crescerem 2,4%.
PARA CHEGAR AO 1,2%
(Em pontos percentuais)
Contribuições para o Produto Interno Bruto
Consumo das famílias +1,0
Consumo do governo +0,5
Investimentos +0,1
Exportações -1,9
Importações +0,9
Fonte: Banco Central