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15/08/2016 Marina Schmidt/Jornal do Comércio
Receitas aumentam no semestre, mas não resolvem caixa do Estado
A situação das finanças do Rio Grande do Sul é uma das mais críticas do País no atual cenário econômico, que conjuga fatores negativos em detrimento das contas públicas como um todo.
Em um contexto de queda na arrecadação, de maneira generalizada, chefes do Executivo estaduais e municipais têm buscado saídas para assegurar serviços públicos com um volume menor de receitas.
No Estado, essa equação sofre um peso ainda maior: o de uma dívida crescente com a União, que se arrasta governo após governo há décadas. Quitar débitos tão onerosos, garantir serviços públicos e pagar fornecedores e servidores (ativos e inativos) com uma verba que, nitidamente, não supre todas as demandas é um desafio colocado à atual gestão e à sociedade gaúcha como um todo.
De acordo com o relatório de execução orçamentária mais recente, o primeiro semestre deste ano registrou uma evolução de mais de 20% das receitas, que alcançaram R$ 23,93 bilhões contra R$ 19,91 bilhões no mesmo período de 2015. As despesas pagas também aumentaram, mas em um patamar menor, com variação de 15%, fechando o semestre em R$ 22,91 bilhões ante R$ 19,90 bilhões dos seis primeiros meses do ano passado.
A constatação inicial é de que as finanças do Estado melhoraram, a ponto de a receita superar as despesas, o que denotaria que é possível quitar todos os débitos do período. Mas o subsecretário do Tesouro do Estado, Leonardo Maranhão Busatto, detalha que, no primeiro semestre deste ano, houve um incremento atípico de receita, decorrente da venda da folha de pagamento para o Banrisul. "No dia 20 de junho, entrou R$ 1,25 bilhão na conta do Estado", afirma. O dinheiro, no entanto, nem chegou a ficar no caixa, porque foi imediatamente debitado o 13º salário do ano passado, que estava na despesa de 2015.
"Além de ter usado esse R$ 1,25 bilhão da venda da folha, ainda tive que acrescentar mais cerca R$ 67 milhões para pagar os juros do abono que foi dado aos servidores pelo atraso do 13º salário", justifica. Não é muito diferente, portanto, daquela família que está endividada e que, quando recebe um dinheiro extra, quita a dívida e mais os juros. Nas finanças públicas, essas pendências, que não foram acertadas no prazo, são chamadas de restos a pagar.
No relatório de execução orçamentária que encerrou o primeiro semestre deste ano, o montante de R$ 1,98 bilhão que aparece como "outras receitas correntes" na apuração do 3º bimestre deste ano é, majoritariamente, resultado da venda da folha de pagamento.
A sinalização é a de que, mesmo com o ajuste fiscal que vem sendo feito, a realidade permanece a mesma, com perspectiva de que os salários dos servidores permaneçam sendo parcelados nos próximos meses. "Estávamos analisando que tem mais de 10 estados que estão parcelando salários ou tiveram que alterar a data de pagamento para não atrasar, o que significa, na verdade, atrasar também", comenta Busatto.
O Rio Grande do Sul paga os servidores no último dia útil, mas não deve alterar a data de pagamento, destaca o subsecretário. "Analisamos o que tem sido feito em outros estados, mas o problema de alterar a data é que, se mudar o dia do pagamento e depois não cumprir isso, cria uma frustração maior." Foi o que aconteceu no Rio de Janeiro, conta, que alterou a data de pagamento para o dia 10, mas, no segundo mês, não conseguiu cumprir.
"Além disso, temos utilizado como critério que, no dia 31, temos um pouco de dinheiro no caixa, porque tem arrecadação e algumas transferências federais. Então, ficaríamos com esse dinheiro em caixa sem pagar para o servidor", argumenta Busatto. "Enquanto tivermos dinheiro, podemos depositar na conta do servidor. É melhor do que ficar segurando para pagar lá na frente. Por enquanto, temos mantido esse critério."