01/04/2009 FOLHA DE SÃO PAULO
Opinião
DO ENVIADO ESPECIAL A LONDRES
Os líderes que participam, a partir de hoje, da Cúpula de Londres, seu nome oficial, terão em torno de 17 minutos cada um para dizer como salvar o mundo de sua crise mais grave em 50, 60 ou 70 anos, dependendo de qual é o parâmetro de comparação que se use. Chega-se aos 17 minutos da seguinte maneira: a cúpula propriamente dita terá oito horas e 40 minutos de duração, somados o café da manhã que a inaugura, o almoço que separa uma sessão de trabalho da outra e os debates propriamente ditos.
Não contam a recepção que a rainha Elizabeth 2ª oferece hoje ao anoitecer no Palácio de Buckingham nem o subsequente jantar de praxe, no número 10 de Downing Street, residência e local de trabalho do anfitrião, o primeiro-ministro Gordon Brown.
Como são 30 as personalidades que participarão do encontro, ficam, portanto, mais ou menos 17 minutos para cada um, se houver uma distribuição igualitária do tempo.
É pouco? Sim, se alguém imagina que as discussões de cúpulas, quaisquer que sejam, são trabalho exclusivo dos chefes de governo. Não é assim. Elas são exaustivamente preparadas pelo que o jargão diplomático chama de "sherpas", em alusão aos guias do Himalaia, que carregam o equipamento e mapeiam o caminho para que os alpinistas finquem a bandeira no pico -ou, no caso, para que os governantes assinem o texto final.
Cinco meses
Para a cúpula de Londres, há, na verdade, dois "sherpas" principais. Um é o vice-ministro das Finanças de cada país (no caso do Brasil, o embaixador Marcos Galvão, assessor internacional da Fazenda). O outro é designado pela Presidência ou pela Chancelaria de cada nação envolvida (o do Brasil é outro embaixador, Pedro Luís Carneiro de Mendonça). Os "sherpas" estão trabalhando desde a cúpula de Washington, que aconteceu em novembro passado. Ou seja, há praticamente cinco meses discutem a alentada e complexa agenda de salvação do planeta.
Às vezes, reúnem-se ao vivo. Às vezes, trocam e-mails. É natural, por esse mecanismo, que acabe vazando o teor do documento final, como aconteceu no domingo pelo jornal britânico "Financial Times" -o conteúdo foi resumido nas edições de anteontem e ontem da Folha (leia mais no texto acima).
A ideia, em qualquer cúpula, é chegar a ela com o texto definitivo pronto e previamente aprovado. Mas é óbvio que os governantes podem, sempre, fazer alterações de última hora, além dos discursos em que marcam uma posição política, já que, neste caso, o texto final é de caráter predominantemente técnico. (CR)