10/04/2019 IstoÉ Dinheiro
Todas as propostas de reforma da Previdência incluíram um pilar de capitalização. Nele, o trabalhador da ativa faz uma poupança, voluntária ou compulsória. Na hora de receber o benefício, o capital acumulado e seus rendimentos ajudam a compor o saldo, reduzindo a carga sobre os trabalhadores na ativa. Esse modelo é visto como virtuoso por dois motivos. O primeiro, macroeconômico, é que ele permitirá a geração de poupança de longo prazo. O segundo, microeconômico, é dar ao trabalhador as melhores alternativas para seu dinheiro, estimulando uma cultura de poupança. No entanto, há algumas dificuldades.
Segundo Mauro José da Silva, diretor técnico da Unafisco, a associação dos auditores fiscais da Receita Federal, a proposta de capitalização vai gerar negócios polpudos para os bancos. Porém, se a conta ficar apenas com o trabalhador, sem participação do empresário, o dinheiro vai durar pouco. Silva realizou um estudo, obtido com exclusividade pela DINHEIRO, calculando a acumulação e os benefícios no longo prazo. Em seu estudo, ele considerou dois ciclos longos de 35 anos, nos quais haveria apenas o regime de capitalização e do qual participariam todos os trabalhadores.
Ao fim desse período, o sistema teria um patrimônio de R$ 54 trilhões, mais de 13 vezes o total aplicado atualmente em fundos de investimento. Esse montante geraria, em média, um faturamento anual de R$ 388 bilhões em taxas de administração e carregamento para os bancos. “Porém, na média, um trabalhador que se aposentasse aos 60 anos só teria dinheiro até os 73 anos”, diz Silva. Sem as taxas cobradas pelos bancos, o dinheiro acabaria aos 80 anos. “No limite da expectativa de vida atual”, diz ele. Sua conclusão é simples. “Apesar da defesa do sistema de capitalização, ele só se sustenta com a participação dos trabalhadores e dos empregadores, no mínimo com contribuições iguais para a formação da poupança.”