16/12/2020 Agitra via UOL
Nesta terça-feira (15) comemora-se o Dia Nacional da Economia Solidária, também conhecida como EcoSol. No entanto, muitas pessoas desconhecem esse termo e o que significa.
Trata-se de um conjunto de atividades socioeconômicas integrada por associações, cooperativas e grupos informais de trabalhadores que se unem para produzir, prestar serviços, consumir e poupar. Os bancos comunitários que trabalham com moeda social e promovem o desenvolvimento local também integram a EcoSol.
Essas iniciativas têm relações com o mercado, mas valorizam, principalmente, o interesse coletivo e a solidariedade em forma de reciprocidade, apoio mútuo.
Agricultor de produtos orgânicos recebe visita de representantes do grupo Livres, de consumo consciente
Agricultor de produtos orgânicos em Itanhaém (SP) recebe visita de representantes do grupo Livres, de consumo consciente, de Santos (SP) - Newton Rodrigues
Para considerar se determinado empreendimento econômico é solidário necessita-se que haja autogestão, princípio estrutural, pois na EcoSol não existe patrões ou empregados, mas cooperados. Assim, valoriza-se a interdependência entre os participantes do empreendimento. A solidariedade entre os membros e destes com fornecedores, consumidores e poder público não se fundamenta na caridade. A solidariedade deve estar vinculada à reciprocidade, o que a torna um dos pilares para que empreendimentos e indivíduos alcancem a emancipação.
A EcoSol ocupa uma posição de destaque em diversos países.
Bénédicte Manier, jornalista francesa especializada em questões sociais e de desenvolvimento, cita os seguintes dados em seu livro "Un Million de Révolutions Tranquilles", publicado em 2012.
Considerando somente as cooperativas, a EcoSol gera no mundo 100 milhões de postos de trabalho, 20% mais que todas as multinacionais juntas. No Canadá e na Noruega, 33% da população está vinculada a cooperativas, sendo que na Nova Zelândia esse percentual chega a 50%. Na Itália, há 85 mil cooperativas.
A EcoSol também é uma realidade no Brasil, onde temos aproximadamente 40 mil empreendimentos econômicos solidários formais e informais, em diferentes áreas —todos contribuindo com o desenvolvimento local.
Há agricultores familiares e pescadores que comercializam a produção diretamente para os consumidores por meio de feiras do produtor; grupos de produção de artesanato e roupas; prestadoras de serviços de lavanderia e outros tipos; grupo de comercialização de cestas de café da manhã, cooperativa de comercialização de pescado; produtores rurais dedicados à agroecologia e vinculados a grupos de compra urbanos, indígenas e quilombolas engajados no turismo de base comunitária; hortas comunitárias urbanas, coletores de material reciclável etc.
Feira popular em Itanhaém (SP), que comercializa produtos da economia solidária
Feira popular que comercializa produtos da economia solidária em Itanhaém (SP) - Newton Rodrigues
A organização de grupos que atuam sob os princípios e valores da EcoSol tem sido a forma de inclusão socioeconômica de integrantes de segmentos sociais urbanos que estão excluídos do mercado de trabalho formal e, também, de melhoria da renda de produtores rurais familiares, pescadores artesanais, quilombolas e indígenas.
Ao mesmo tempo, constrói-se uma economia em que não há patrões, fundamentada na autogestão. A EcoSol pode ser decisiva na geração de renda em um momento de crise econômica em que o Estado e empresas tradicionais não contratam.
Indígenas de Mongaguá (SP) aprendem a produzir banana com agricultora familiar
Indígenas de Mongaguá (SP) aprendem a produzir banana com agricultora familiar - Newton Rodrigues
Assim, os próprios desempregados resolverão o seu problema associando-se para produzir e prestar serviços, com seus talentos e saberes em interação. Porém, necessita-se que os governos federal, estaduais e municipais criem políticas de apoio para o desenvolvimento e fortalecimento da EcoSol, principalmente com financiamento e assessoramento técnico e organizacional aos grupos.
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