10/03/2009 FELIPE VIEIRA ONLINE
Reduzir ou excluir a exigência de pagamento de tributos por parte daqueles que se encontram na base da pirâmide econômica. Essa é uma das ideias norteadoras da tese defendida por Marciano Buffon, professor do curso de Direito da Unisinos, na obra Tributação e Dignidade Humana - entre os direitos e deveres fundamentais, que tem sessão de autógrafos na quinta (19/3), às 19h, na Livraria Cultura, no Bourbon Country (Av. Túlio de Rose, 80), e é fruto de sua pesquisa de doutorado.
Ele acredita que tais mudanças seriam zeladoras da dignidade humana, uma vez que a maior afronta a esse direito é justamente a exigência de tributos que comprometem o mínimo existencial, ou seja, aquela renda necessária a uma existência digna, em que o cidadão não se veja obrigado a ficar diante da alternativa de, por exemplo, alimentar-se ou pagar tributos. "Isso atualmente ocorre, pois o custo dos tributos é repassado a todos os produtos, e quem arca com esse ônus é o consumidor final, independentemente de sua capacidade econômica", pontua. Embora o tema não seja novo, existe uma resistência histórica à implementação da doutrina, inclusive por parte do Judiciário, que, segundo o autor, interpreta de forma literal o artigo da Constituição que trata deste assunto, e, como isso, mantém o sistema tributário que atinge mais fortemente as classes menos privilegiadas. "Inverter a lógica de levar em conta mais o interesse humano do que o econômico ao fixar aquelas cargas tributárias utilizadas indiretamente para realizar direitos fundamentais talvez seja o ponto inédito proposto pelo estudo", salienta. "Tudo isso tendo como objetivo perseguir e realizar a ideia de dignidade humana, tão distante para tanta gente neste país, em que mais de um terço da população que vive abaixo da linha de pobreza", finaliza. Leia, a seguir, o texto escrito pelo advogado Ovídio A. Baptista da Silva, na contracapa do livro:
A partir da constatação de que o modelo atual de tributação, denominado de neotributação, colabora para ampliar as desigualdades sociais, o autor sugere que seja introduzido o interesse humano no mesmo, adequando a carga de impostos à efetiva capacidade econômica do cidadão, desonerando aqueles destituídos de condições para pagá-los. Tal modelo já é adotado em diversos países da Europa. Dessa forma, Buffon propõe, primeiramente, a isenção tributária da cesta básica de alimentos e de serviços. Seguindo esse raciocínio, ele sugere a ampliação do limite de isenção do imposto de renda das pessoas físicas, assim como a introdução de uma efetiva progressividade de alíquotas e alíquotas diferenciados para impostos que incidem sobre bens (IPTU, IPVA, ITBI, ITR, ITCD), além de concomitante combate à evasão fiscal.
"Advogado militante com experiência no campo do Direito Tributário, Marciano Buffon foi além do que consta nos livros de doutrina, estágio final, muitas vezes, das teses acadêmicas. Basta ter presente o modo como o autor aborda temas próprios do atual direito constitucional brasileiro, com o princípio da capacidade contributiva, do art. 145, parágrafo 1, da Constituição, que ele interpreta hermeneuticamente, procurando dar sentido adequado a esse princípio, jamais praticado, com fidelidade, pela doutrina e pela jurisprudência brasileiras, de modo a extrair dele uma das fundações que o autor denomina densificação do princípio da dignidade da pessoa humana"
O autor
Marciano Buffon é doutor em Direito - ênfase em Direito do Estado - pela Unisinos, com período de pesquisa na Universidade de Coimbra. Mestre em Direito Empresarial. Professor de Direito Tributário na Unisinos e em cursos de pós-graduação (especialização) em Direito Tributário de outras universidades.