11/03/2009 O ESTADO DE SÃO PAULO
Para analistas econômicos, é grande a chance de o Brasil entrar em recessão neste ano
Marcelo Rehder, Sérgio Gobetti e Leandro Modé
A queda de 3,6% no nível de atividade no último trimestre de 2008 tornou quase impossível a missão do governo de terminar 2009 com taxa positiva de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Para que a expansão atinja 1% sobre 2008, seria preciso que o PIB não caísse no primeiro trimestre. Mais: o crescimento nos três trimestres seguintes teria de ser acelerado, até alcançar 3% nos três últimos meses do ano.
Nas circunstâncias atuais, em que os indicadores industriais e de arrecadação apontam forte desaceleração em janeiro e fevereiro, economistas do mercado e do governo avaliam como quase certa uma nova queda do nível de atividade no primeiro trimestre. Se isso ocorrer, seria um quadro técnico de recessão - dois trimestres seguidos com recuo do PIB.
Parte dessa dificuldade se explica pela estatística. Como o crescimento em 2008 foi muito forte, o nível médio de atividade econômica do ano passado é mais alto que o do último trimestre. Nesse caso, se a economia permanecesse parada em 2009 no mesmo nível do fim de 2008, o PIB terminaria este ano com queda de 1,5%, na comparação com a média do ano passado.
Mesmo que consiga reagir a partir do segundo trimestre e cresça 1% a cada três meses, ainda assim o PIB fecharia 2009 na mesma média de 2008. Esse seria o caso de crescimento zero - hipótese bem provável. Técnicos da Fazenda reconhecem que as projeções mais realistas para alta do PIB devem oscilar entre zero e 1%, no máximo. Mas o governo deve continuar trabalhando com uma meta de pelo menos 2%, virtualmente impossível de atingir.
A previsão da MCM Consultores, que era de crescimento de 1,5% do PIB para este ano, virou zero depois da divulgação do resultado do quarto trimestre e da produção industrial de janeiro. Por enquanto, a Rosenberg Consultores Associados manteve a previsão de 0,8% para este ano, porém com viés de baixa. "Isso significa que a previsão pode ser revisada para menos nas próximas semanas", disse Thais Marzola Zara, economista-chefe da Rosenberg.
A LCA Consultores prefere esperar o resultado da reunião de hoje do Comitê de Política Monetária (Copom), que vai definir a nova taxa de juros, antes de rever sua projeção para o PIB de 2008. Inicialmente, a consultoria trabalhava com crescimento de 2,4%, que deve ser reduzido para alguma coisa entre 1,5% e 2%, segundo o economista Francisco Pessoa Faria.
O economista-chefe da SLW Corretora, Carlos Thadeu de Freitas Filho, também reviu para baixo a estimativa para 2009. Agora, ele espera uma queda do PIB entre 0,5% e 1%. Antes, previa recuo de 0,2%, com um viés "ligeiramente positivo".
Freitas Filho é o analista que, na pesquisa da Agência Estado com 21 instituições, mais se aproximou do número divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ele projetava queda de 3,5% (foi de 3,6%). "O resultado mostra que o Brasil não conseguiu se descolar do resto do mundo, como muitos imaginavam."