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12/03/2009 GAZETA MERCANTIL
Brasil sofreu mais com a crise que os EUA, diz estudo da Fiesp
A crise está castigando não apenas segmentos específicos da indústria brasileira, como a economia do País como um todo, com uma força muito maior que em outros países. É o que divulgou, ontem, a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), a partir de cálculos feitos sobre os resultados do PIB, divulgados na terça-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Ana Cecília Americano
Segundo a entidade, no mercado interno, em 2008, o segmento que mais sofreu com os impactos da crise foi o da indústria da transformação, com uma queda de 9,2% no último trimestre do ano, sendo seguida pela construção civil, que retraiu-se no período 5,8%, e a indústria extrativa, que encolheu 5,6% no final do ano. Esses mesmos setores, quando o quarto trimestre de 2008 é comparado com o quarto trimestre de 2007 apresentaram uma retração de 4,9%, no caso da indústria da transformação, e crescimentos tímidos no ano, de 2,1%, no caso da construção civil; e 0,3%, na indústria extrativa.
Paulo Francini, diretor do Departamento de Pesquisas Econômicas da Fiesp, foi além: apresentou dados internacionais que comprovariam o quanto a crise estaria atingindo diferentes economias do mundo em prazos e intensidades diferentes. E, nesta comparação, o Brasil teria sido um dos mais castigados globalmente. Segundo ele, ao se comparar a evolução do PIB de várias nações desde o terceiro trimestre de 2007, o Brasil foi o segundo país com maior perda de crescimento em pontos percentuais do PIB. Pior. Olhando o desempenho de cada país, se for levado em consideração o último trimestre em que há crescimento antes da desaceleração provocada pela crise mundial, o Brasil perdeu 5,3 pontos percentuais de PIB em apenas um único trimestre, enquanto os Estados Unidos, por exemplo, perdeu 2,8 ponto percentual de PIB num espaço muito mais longo, de 5 trimestres. "Caímos quase o dobro dos americanos, num espaço de tempo muito menor. Aqui, os impactos foram de extrema violência e se manifestaram com grande rapidez. O mais grave é que esse processo, de desaceleração, no Brasil, ainda nem começou direito", ressaltou o economista.
De acordo com os dados da Fiesp, não há paralelo no mundo ao tamanho do tombo brasileiro em tão curto espaço de tempo. "A Coréia é o caso que mais se aproxima: em quatro trimestres de desaceleração, encolheu 7,2 pontos percentuais de PIB", conta. Segundo Francini, a despeito das manchetes de jornais, o que o seu estudo revela é que países do epicentro da crise - ou que foram importantes protagonistas dela - como Estados Unidos e Zona do Euro saíram-se melhor, se o comportamento de seus PIBs for comparado. Francini rebate o argumento de que a queda do PIB brasileiro tenha sido mais forte devido ao ritmo do seu crescimento em 2008: "No mesmo período a China cresceu mais que o Brasil e perdeu apenas 3,6 pontos percentuais de seu PIB, num período maior, de três trimestres".
O economista da Fiesp acredita que essas comparações possam ser mais um "grito de alerta" da entidade às autoridades econômicas. "Houve muita perda de tempo discutindo-se se a crise chegaria ou não ao Brasil e em qual intensidade. E esta inação teve um preço", disparou. O valor a ser pago pela indústria brasileira, na avaliação de Francini, é que, para alcançar a mesma produção física de 2008 ao final de 2009, tendo janeiro de 2009 como referência, será necessário manter por 11 meses consecutivos um crescimento médio da produção de 2,8%. "Tenho certeza que não chegaremos lá. Ao contrário, haverá a redução dos indicadores da atividade industrial em 2009", afirmou.
Energia mais cara
Além da discussão dos resultados do PIB divulgados pelo IBGE, a pauta, ontem, da reunião do Conselho Superior Estratégico da Fiesp - que reúne mais de quarenta líderes e personalidades da indústria -, centrou-se na preocupação da indústria com os crescentes custos de energia no Brasil. Segundo cálculos da entidade, eles aumentaram em 25% entre 2002 e 2008. "Tememos que essa tendência de aumentos continue", afirmou Fernando Xavier Ferreira, presidente do Conselho Superior de Infra-estrutura da Fiesp.
Entre as preocupações da entidade com a questão energética estão a maior participação das usinas térmicas na matriz; o crescente custo do transporte da energia do local onde é produzida para onde é consumida; e a oneração de tributos - deveriam estar extintos - acrescido à possibilidade da criação de novos encargos no custo do insumo, considerado crucial à indústria.
O dirigente afirmou que, de cada R$ 100 pagos pela indústria pela energia no Brasil, R$ 46 seriam relativos a impostos e a encargos setoriais. "Estamos realizando estudos preliminares sobre esta questão, tendo em vista, ainda, a renovação dos contratos antigos de concessão - provavelmente a preços maiores", disse. Segundo Ferreira, também a morosidade nos licenciamentos ambientais e a insegurança jurídica que representam aos investidores do setor foram questionados pelos industriais presentes à reunião do conselho da federação.