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06/04/2017 BBC
Portugal está superando crise econômica sem recorrer a fórmulas de austeridade, diz Economist
Se de um lado os gregos passaram a seguir à risca a cartilha da austeridade econômica - e, aos olhos do FMI, ainda não estão fazendo o suficiente para reparar a economia e minimizar a dívida - o governo português do primeiro-ministro António Costa, do Partido Socialista, no poder desde novembro de 2015, conseguiu reduzir o deficit fiscal ao mesmo tempo em que aumentou os salários e aposentadorias.
Segundo reportagem desta semana da revista britânica The Economist, Portugal conseguiu reduzir seu deficit orçamentário à metade em 2016, chegando a 2,1% do Produto Interno Bruto (PIB). Trata-se do melhor resultado registrado desde a transição para a democracia, em 1974.
Sob o comando de Costa, o país também atingiu pela primeira vez a meta estabelecida para as nações da chamada zona do euro e conseguiu reestabelecer salários, aposentadorias e horas trabalhadas aos níveis anteriores à crise econômica de 2008. Além disso, a economia portuguesa cresce há três anos seguidos.
A administração de Costa parece comprovar o que muitos economistas heterodoxos defendiam como resposta à crise global: mais que austeridade aguda, os países europeus precisam de medidas que elevem a demanda interna para impulsionar o crescimento.
Ou seja, se o governo gastar mais, é possível reativar a economia, aumentar as receitas e, eventualmente, reduzir o deficit orçamentário.
Austeridade
Portugal chegou a ensaiar um forte pacote de austeridade entre 2011 e 2014.
Naquela época, Alison Roberts, repórter da BBC em Portugal, contava que o país chegou a receber ajuda de 78 bilhões euros da UE e do FMI para pagar a dívida. Em 2014, o crescimento do PIB era negativo e o desemprego chegava a 15%.
"Os economistas duvidam se a dívida de Portugal é sustentável", escreveu à época.
Costa chegou ao poder em 2015, encabeçando uma coalizão de esquerda e com a promessa de acabar com a austeridade a qualquer custo.
Em menos de dois anos, o cenário passou a ser otimista. O Banco Central português estima, para 2019, redução da taxa de desemprego para 7%, enquanto as exportações devem crescer em 6%.
Com problemas
Isso não significa, contudo, que a economia portuguesa esteja livre de problemas. Como indica a revista The Economist, a Comissão Europeia segue alertando para a fragilidade dos bancos do país.
O governo, por sua vez, critica o FMI e a UE por não terem oferecido ajuda suficiente a Portugal durante os piores anos da crise. Apesar de o deficit fiscal estar em queda, a dívida pública está aumentando e pode chegar a 131% do PIB, conforme relatado pela publicação britânica.
Por isso, afirma a revista The Economist, muitos ainda vão olhar com desconfiança para os resultados econômicos de Portugal até que Costa consiga repetir o sucesso registrado no ano passado.
Ainda assim, é notório o contraste entre a melhoria das condições econômicas em Portugal e a deterioração registrada em outros países europeus.
Também é digno de nota o impacto político dessa recuperação econômica. - o Partido Socialista aparece dez pontos percentuais na frente dos rivais, os sociais-democratas, em pesquisas de intenção de votos.
O bom desempenho da economia coloca o país na posição de um "oásis" em meio à turbulência política que atinge a Europa. Além disso, indica que a solução keynesiana - referência às teorias do economista inglês John Maynard Keynes defendendo a intervenção do Estado para impulsionar a economia - pelos portugueses está funcionando para gerar crescimento.