19/05/2009 O GLOBO
Ministro, porém, diz que país está reagindo e crescerá até 4% no fim do ano
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, admitiu ontem que o Brasil "provavelmente viveu uma recessão técnica (dois trimestres seguidos de queda na atividade econômica) entre o último trimestre do ano passado e o primeiro deste ano". A afirmação foi feita após o ministro concluir sua palestra no XXI Forum Nacional, no Rio, que acontece até quinta-feira. Há duas semanas, O GLOBO informou que o Ministério da Fazenda já estava trabalhando com a hipótese de recessão técnica, mas é a primeira vez que o ministro admite isso publicamente:
- Provavelmente houve recessão técnica. Não temos ainda os dados oficiais. Se houve ou se não houve, que importância tem? O que nós sabemos é que o último trimestre e o primeiro deste ano foram fracos, mas o que interessa é o filme. A fotografia do passado nós já sabemos. E, no mundo, a economia foi mal. Não podemos ficar discutindo passado, temos que ver o que está acontecendo hoje no país.
Apesar de dizer que está havendo uma reação no segundo trimestre, Mantega não quis fazer previsões para o desempenho da economia nesse período, afirmando que há grande volatilidade nas projeções.
- Acreditamos que no último trimestre do ano haverá crescimento de 3% a 4% e, em 2010, uma alta de 4% a 5% do PIB, acompanhando a China e a Índia - disse o ministro.
Coutinho vê "demonstrações inequívocas" de reação
Para o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, a economia brasileira está dando "demonstrações inequívocas" de que pode se descolar da crise internacional. Ele mencionou a criação de empregos formais na indústria em abril, conforme divulgado ontem pelo Ministério do Trabalho. Segundo Coutinho, há sinais também de aumento no consumo das famílias e na compra de bens duráveis.
Especialistas reunidos pelo Fórum para debater o peso dos grandes países emergentes foram quase unânimes em afirmar ontem que, na saída da crise internacional, são essas economias que vão liderar o crescimento mundial. O tom mais pessimista ficou por conta de Jan Kregel, do Levy Economics Institute. Na sua avaliação, os mesmos mecanismos que causaram a crise explicam em parte o rápido crescimento das economias emergentes nos últimos anos. São eles a expansão do outsourcing (terceirização de serviços à distância) e a sofisticação dos instrumentos financeiros que provocaram a bolha no mercado imobiliário americano e, paralelamente, levaram a uma alta artificial nos preços das commodities.
- Não é certo que os emergentes continuarão a crescer de forma acelerada como foi no passado recente - disse o economista.