30/03/2012 CORREIO BRAZILIENSE
Presidente admite que o Brasil precisa elevar os investimentos para 24% do PIB se quiser crescer sem pressionar a inflação. País tem o pior índice entre China, Índia e Rússia por falta de poupança interna. Meta do governo é sensibilizar o setor privado a ampliar produção
Nova Délhi — A presidente Dilma Rousseff avisou ontem que o Brasil dará, na próxima terça-feira, mais um passo no sentido de enfrentar a guerra cambial que tanto atormenta o mundo e está fazendo estragos, principalmente, nas economias emergentes.
Ela anunciará uma nova rodada de corte de impostos com o intuito de estimular os investimentos produtivos e manter o consumo do brasileiro em ritmo crescente. Para Dilma, apesar de ainda não se ver uma onda de demissões no chão das fábricas, muitas afetadas por uma avalanche de importações, é necessário incentivar e proteger a indústria nacional. "O Brasil precisa reduzir a sua carga tributária", admitiu.
Na capital indiana, onde participou da reunião de cúpula do Brics, o bloco econômico formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, Dilma disse que fará "o que for possível" no sentido de evitar que o país seja tragado pelas turbulências internacionais. E isso passa por tributos menores. No seu entender, o esforço a ser feito visa elevar as taxas de investimento dos atuais 19% para 24% do Produto Interno Bruto (PIB), para que a economia possa crescer sem pressionar a inflação. Entre as nações do Brics, o Brasil registra o pior indicador (19,3%), por não ter poupança suficiente para tocar obras. Pelos cálculos do Fundo Monetário Internacional (FMI), a taxa de poupança nacional é de apenas 17,2% do PIB, contra 28,2% da Rússia, 35,4% da Índia e 53,8% da China.
Para a presidente, é crucial que a economia cresça no segundo semestre deste ano a índices anualizados de 5%. Só assim, acredita ela, o governo criará condições mais confortáveis a seus aliados no palco em que se desenrolará as eleições municipais, especialmente em São Paulo. É na capital paulista que as duas maiores forças políticas, o PT e o PSDB, realizarão as prévias das eleições presidenciais de 2014. Mais que ampliar as bases aliadas nos municípios, a presença firme de Dilma, tanto no plano local quanto no global, são importantes credenciais para a sua própria reeleição.
Congresso
Com o intuito de mostrar o esforço do governo, a presidente citou investimentos em diversas áreas, enfatizando as liberações de R$ 40 bilhões para os estados investirem em infraestrutura. Ela prometeu passar de 2 milhões para 2,4 milhões o número de casas a serem construídas no programa Minha Casa, Minha Vida, mesmo com as dificuldades do governo de bancar as prometidas obras. "Nem sempre é possível cortar gastos no governo", avisou, convidando o setor privado a integrar o esforço. "Sem sombra de dúvida, o esforço que nós fazemos tem de ser complementado pelo investimento privado. Sem isso, não se cria uma taxa de investimento de 24%, como desejamos", frisou. A presidente tocou ainda em um assunto caro aos brasileiros: a saúde. "Temos de ampliar o número de médicos. Temos 1,8 para cada mil habitantes, uma das mais baixas taxas no mundo."
Fazendo coro aos empresários, Dilma disse que também reclama muito do sistema tributário brasileiro. E admitiu que, no futuro, seja possível encaminhar uma reforma global. Ela explicou que se tornou necessário adotar medidas pontuais, capazes de, no conjunto, criar uma situação de desoneração, condição para o crescimento. A reforma tributária está parada há anos no Congresso, com o qual a presidente anda às turras. Ao ser indagada se havia vencido a disputa com o Legislativo, diante da aprovação do Fundo de Previdência Complementar dos Servidores Públicos Federais e da Lei Geral da Copa, respondeu: "Eu não venci guerra nenhuma". Aproveitou para dizer que não existe crise com o Congresso e alfinetou: "Uma parte disso vocês é que criam, né gente. O que é que eu posso fazer? Vocês chegam à conclusão que tem uma crise e depois têm de resolver como é que ela desapareceu. Aí vem as hipóteses".
Sem acordo para o Bird
Os países integrantes do Brics não conseguiram chegar a acordo para respaldar, de maneira conjunta, nenhum dos três candidatos que aspiram presidir o Banco Mundial (Bird). Na declaração final, limitaram-se a felicitar as candidaturas do "mundo em desenvolvimento", mas reiteraram que a seleção dos máximos responsáveis do Bird e do Fundo Monetário Internacional (FMI) deve ser realizada com base nos "méritos" dos aspirantes e não da nacionalidade. Três candidatos estão na lista para suceder ao norte-americano Robert Zoellick à frente do Bird a partir de junho: o médico e antropólogo de origem sul-coreana, Jim Yong Kim, presidente do Dartmouth College e apoiado por Washington; o colombiano José Antonio Ocampo, ex-ministro da Fazenda da Colômbia e professor na Universidade Columbia, e a ministra nigeriana de Finanças, Ngozi Okonjo-Iweala. Até agora, Europa e Estados Unidos têm dividido as presidências do FMI e do Bird respectivamente, segundo acordo tácito entre as partes.
"Sem sombra de dúvida, o esforço que nós fazemos tem de ser complementado pelo investimento privado. Sem isso, não se cria uma taxa de investimento de 24%, como desejamos"
Dilma Rousseff, presidente da República