24/05/2012 CORREIO BRAZILIENSE
Autor(es): » ROSANA HESSEL » CRISTIANE BONFANTI
A dívida pública federal atingiu R$ 1,88 trilhão em abril, um aumento de R$ 25 bilhões (ou 1,32%) na comparação com o mês anterior. Em março, ela somava R$ 1,85 trilhão, de acordo com dados da Secretaria do Tesouro Nacional divulgados ontem. Segundo o governo, o rombo cresceu em abril por causa, sobretudo, das despesas com juros, que totalizaram R$ 17,5 bilhões. Em março, essas despesas haviam sido bem maiores: R$ 21,8 bilhões. A queda é resultado da redução da taxa básica (Selic), hoje em 9% ao ano.
O coordenador de operações da dívida pública, José Franco Morais, exemplificou que alguns papéis pré-fixados com vencimento em 2016 pagam 10% ao ano, mas a curva dessas taxas é de queda. “O momento de investir (em títulos públicos) com ganhos maiores já passou. Quem aproveitou, aproveitou. Essa rentabilidade de dois dígitos tende a não existir mais”, afirmou.
Para o economista da consultoria Tendências Felipe Salto, a queda dos juros era esperada, especialmente porque, além de ser uma bandeira da presidente Dilma Rousseff, é a única forma de aumentar o investimento produtivo, ou seja, em empresas. “O brasileiro, por conta do nosso histórico de inflação alta, acostumou a ter juros elevados e, se eles caírem, o investidor começará a olhar mais para oportunidades na economia real”, comentou. Mas ele lembrou que somente a queda dos juros não será suficiente para que isso ocorra, uma vez que será necessário também que o governo faça a sua parte, investindo mais em infraestrutura, além de reduzir o Custo Brasil, diminuindo a burocracia e a carga tributária.
Na avaliação de Salto, o resultado apresentado ontem pelo Tesouro não trouxe surpresas. “O importante é que o governo vem conseguindo mudar o perfil da dívida e reduzir o volume de títulos indexados à Selic (as Letras Financeiras do Tesouro — LFT), de 26,34% em março para 26,12% em abril”, completou. A meta do governo é que esses papéis representem de 22% a 26% do total da dívida pública até dezembro.
Aposta
Ele lembrou que, no início do ano, o governo obrigou os fundos públicos a trocarem suas LFT (cerca de R$ 60 bilhões) por papéis indexados à inflação. Ainda faltam trocar R$ 38 bilhões que estão com a Previdência. “Eles estão no caminho, mas, daqui para frente, vai ser mais difícil reduzir esse percentual. Tudo vai depender de como a economia irá reagir”, afirmou. Ele destacou que houve um aumento da participação dos papéis indexados à inflação, passando de 31,68% em março para 31,99% em abril. “Esse é um risco, pois implica em uma aposta do mercado no aumento dos preços no futuro”, afirmou.
A expectativa do governo é que, no fim do ano, a dívida pública cresça de R$ 83,6 bilhões a R$ 183,6 bilhões, atingindo um patamar entre R$ 1,95 trilhão e R$ 2,05 trilhões. Em 2011, ela cresceu 10%, para R$ 1,86 trilhão.